Título: Sinais de recuperação
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 08/07/2005, Economia, p. 25

Produção industrial voltou a crescer em maio, puxada por petróleo e mercado de trabalho

Petróleo, mais emprego, menos inflação, boa safra de cana-de-açúcar e exportações ainda em alta jogaram para cima a produção industrial brasileira em maio. O crescimento foi de 1,3% frente ao mês anterior, depois da estagnação registrada em abril. Em comparação com maio do ano passado, a produção avançou 5,5%, indicador que vem crescendo desde setembro de 2003, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal, divulgada ontem pelo IBGE. De janeiro a maio, a produção está 4,7% maior e, nos últimos 12 meses, 7,5%.

- Toda a indústria dá sinais de recuperação. Até abril, os indicadores de tendência mostraram estabilidade na produção. Com a inclusão dos números de maio, essa curva virou para cima. É um crescimento mais disseminado - explicou Isabella Nunes Pereira, gerente da pesquisa.

A recuperação atestada pelas médias trimestrais veio acompanhada de ritmo maior na produção. O volume produzido no bimestre (abril/maio) aumentou 5,9%, enquanto no primeiro trimestre do ano a alta ficou em 3,8%. Em qualquer das quatro categorias observadas essa característica permanece. Em maio, na comparação com abril, a extração de petróleo teve papel positivo. A expansão foi de 2% contra 1,1% do resto da indústria. A cadeia produtiva do petróleo prossegue em alta. O refino do óleo e a produção de álcool cresceram 7,6%.

- Em relação a maio do ano passado, a extrativa cresceu 17,4% - disse Isabella.

Queda de 47% em bens para agricultura

Ao lado da energia, os investimentos que aparecem no levantamento como bens de capital apresentaram um desempenho acima da média. A produção de equipamentos usados para aumentar a capacidade da indústria subiu 3,4%. A taxa só não foi maior pela queda de 47,3% nos bens para agricultura, prejudicados pela quebra de safra no Sul.

- Tudo indica que o investimento vai continuar crescendo, inclusive nas contas do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de todas as riquezas produzidas no país). Os juros de longo prazo estão menores que a Selic (a taxa básica de juros que está em 19,75% ao ano). Isso é o maior estímulo para aumento da produção de bens de capital - disse Rafael Barroso, economista do Grupo de Conjuntura da UFRJ, que projetava uma alta de apenas 0,5% para maio.

O crédito continua a puxar os bens duráveis - avanço de 3,7% frente a abril e de 21,4% contra maio de 2004. Automóveis (17,4%), eletrodomésticos (8,2%) e celulares (82,2%) foram os principais itens.

- A manutenção das condições de crédito, aliada às vendas externas, continua a manter em alta a produção de bens duráveis. No ano, já cresceram 15,2%, a taxa mais alta entre as categorias de uso e bem acima da média nacional (5,5%) - disse Isabella, do IBGE.

O reflexo da inclusão de 242 mil trabalhadores em maio contra abril no universo de ocupados e da queda da inflação apareceram no bom desempenho dos bens não-duráveis (alimentos, remédios, roupas e calçados). Uma indústria voltada principalmente para o mercado interno. A produção cresceu 0,6% frente abril e 7,5% contra o mesmo período de 2004. Disparado na frente vem a produção de álcool combustível: no bimestre abril/maio, houve alta de 70%. Mas também subiram o volume produzido de bebidas (8,8%), calçados (6%) e remédios (9%).

- Vamos ter uma recuperação moderada da renda este ano que empurrará esse setor, mas serão os bens de capital que vão liderar o crescimento - disse Barroso.

A produção maior foi disseminada segundo o IBGE, na comparação com maio de 2004. Dos 24 setores acompanhados, 23 crescerão. Dos 76 subsetores, a alta aconteceu em 55. O índice de difusão (o percentual de taxas positivas) calculado pela UFRJ mostra que, em maio, o percentual atingiu 65% contra 39% de abril.

Mesmo assim, Estêvão Kopschitz, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), alerta que há uma certa concentração da expansão em poucos ramos: extração de petróleo e duráveis.

- Quando se faz a mesma conta em relação a abril e entre os 76 subsetores, esse índice cai para 26% - disse Kopschitz.

BNDES: EMPRESAS PEDIRAM EM JUNHO R$12 BI PARA NOVOS PROJETOS, na página 26

Traduzindo o Economês

Diferenças nas pesquisas do IBGE e CNI

Parece uma contradição ou erro mesmo. Mas não há incoerência entre a queda nas vendas reais de 1,5% detectada pela pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgada anteontem, enquanto o IBGE captou alta na produção de 5,5%. São duas pesquisas com focos diferentes. Na CNI, leva-se em conta apenas o faturamento, não o volume produzido. Essa produção é exatamente o alvo da pesquisa do IBGE. Além disso, a indústria extrativa-mineral, que engloba o petróleo, o minério de ferro, setores que impulsionaram a indústria em maio, não entra nas contas da CNI, apenas do IBGE. Para se ter uma idéia, enquanto a extrativa cresceu 2%, a transformação, acompanhada pela CNI, aumentou a produção em 1,1%.

Isabella Nunes Pereira, gerente da Pesquisa do IBGE, lembra ainda que as quedas de preços podem estar por trás dessa desaceleração verificada pela CNI. Vendeu-se por um preço menor, o que afetou o faturamento.