Título: Dos atentados do IRA ao terror islâmico
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Fonte: O Globo, 08/07/2005, O Mundo, p. 33

Apelidada Londonistão pelo número de grupos extremistas, cidade temia ataque desde 2001

Até 11 de setembro de 2001, a principal preocupação das autoridades britânicas quanto à segurança da capital referia-se a possíveis ataques terroristas do Exército Republicano Irlandês, o IRA. Após os atentados da al-Qaeda nos Estados Unidos, no entanto, os milhares de mortos no World Trade Center, no Pentágono e no avião que caiu na Pensilvânia levaram os ataques terroristas a um patamar desconhecido até então, e o novo inimigo - o extremismo islâmico - passou a ser o alvo dos esforços antiterror britânicos.

Até ontem, a capital britânica tinha sido palco de sete ataques terroristas, com um total de 21 mortos: quatro atentados por parte do IRA entre 1982 e 1996, com 18 vítimas; e três em abril de 1999 por conta de um único extremista neonazista que pôs bombas de pregos em lugares freqüentados por negros, asiáticos e gays, com três mortes. Devido a essa experiência prévia com o terror, Londres já não tem latas de lixo em estações de trem ou metrô.

Extremistas se aproveitaram de leis de asilo político

Por outro lado, a capital da Grã-Bretanha é sede de uma tal variedade de grupos militantes islâmicos radicais que se tornou conhecida dos serviços de inteligência da Europa como Londonistão. Favorecidos pelas leis britânicas de concessão de asilo político, os extremistas se estabeleceram na cidade e ali aproveitam para arrecadar recursos e recrutar novos integrantes. Os radicais islâmicos se valem da significativa população muçulmana de Londres para se tornarem menos visíveis em suas atividades.

Nos anos 90, uma nova leva de radicais, com passagem por campos de treinamento no Afeganistão ou pelas guerras da Bósnia e da Chechênia, chegou à cidade. Muitos formam as chamadas células adormecidas do terror, inativas mas prontas para agir a qualquer momento. O governo e os especialistas há muito tempo sabiam que um ataque de grandes proporções era apenas questão de tempo, sobretudo por causa do alinhamento incondicional do primeiro-ministro Tony Blair com o presidente George W. Bush na invasão do Iraque.

Um dos focos de extremismo na capital britânica era a mesquita de Finsbury Park, onde o clérigo Abu Hamza proporcionava treinamento de combate e exibia vídeos com atrocidades cometidas por terroristas. A mesquita foi fechada em janeiro de 2003 e Hamza, preso. As autoridades estimam que centenas de militantes possam ter sido treinados em Finsbury Park.

Legenda da foto: PESSOAS COM cobertores de emergência reúnem-se em Tavistock Square