Título: Futuro incerto
Autor: LILIAN FONTES
Fonte: O Globo, 09/07/2005, Opinião, p. 6

"Chega um tempo que não se diz mais: meu Deus? Tempo de absoluta depuração."

Eu me pergunto o que Drummond estaria dizendo de tudo isso. Ao ver o deputado Roberto Jefferson fazer as esdrúxulas declarações na televisão, o que Drummond diria sobre o sentimento do brasileiro? Há quantos anos nós ouvimos frases que prometiam um Brasil melhor. Durante quanto tempo Darcy Ribeiro proclamava a importância de se investir na educação como primeiro passo para solucionar as diferenças sociais do país. As gerações que viveram os anos duros da ditadura militar, que lutaram pela mudança, que tiveram paciência de esperar, passar pela eleição indireta, Tancredo e sua trágica morte, chegando, enfim, às eleições diretas para presidente, o que dizer nesse momento?

"E os olhos não choram/ E o coração está seco." Dizia o poeta. Diante de sua imagem sentado no banco da Avenida Atlântica, sentimos vergonha. Porque votamos, sim, num presidente, num governo "que trocou a oportunidade histórica de promover mudanças por um projeto de ocupação do poder".

Vivemos a era do risco, de um futuro incerto. Mas aqui, neste país, e especialmente na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, a situação é a cada dia pior. Vemos uma população cada vez mais miserável e crescendo, meninas se prostituindo, colocando filhos no mundo, vivendo como bichos, catando comida nos lixos, sem banho, sem cama para dormir.

Alguns mais sensíveis expõem em suas janelas a faixa escrito BASTA. Mas diante das cenas do deputado Roberto Jefferson na televisão, dos ensinamentos de como usar o dinheiro ilícito, a corrupção nos Correios, a Justiça absolvendo criminosos, tudo acontecendo no governo do presidente Lula, daquele que levantou tantas bandeiras, que prometeu erradicar a fome, o que fazer com a nossa indignação?

LILIAN FONTES é escritora.

O que fazer com essa nossa indignação?