Título: Conta de Valério no Merril Lynch é investigada
Autor: Chico Otavio e Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 09/07/2005, O País, p. 10

Movimentação no banco de Nova York teria chegado a US$3 milhões e pode ter servido de caixa dois da DNA e SMP&B

BRASÍLIA e BELO HORIZONTE. A Procuradoria da República e a Polícia Federal estão investigando uma conta do publicitário Marcos Valério de Souza no banco Merril Lynch, em Nova York. A conta pode ter servido de caixa dois das empresas DNA e SMP&B e despejado dólares nas campanhas políticas no Brasil.

Valério seria atendido nos Estados Unidos por um funcionário chamado Joel, um mineiro de Belo Horizonte. Aberta no início da década de 90, a conta de Valério na Merril Lynch aparece na agenda da ex-secretária do publicitário, Fernanda Karina Somaggio. Nos últimos três anos, a conta teria movimentado US$3 milhões, de acordo com informações preliminares apuradas pelos responsáveis pelas investigações.

O Ministério Público Federal já solicitou a ajuda da Promotoria Distrital de Nova York para rastrear a contas de Valério. A CPI dos Correios também investiga as movimentações estrangeiras do publicitário. Até 2001, o publicitário teria usado cinco contas abertas pelo Banco Rural na agência do Banestado em Nova York para remeter dinheiro. As contas seriam operadas pelos doleiros de Belo Horizonte Haroldo Bicalho e Paulo Roberto Lima, presos no ano passado durante a operação Farol da Colina.

As empresas de Marco Valério passaram a operar com a Beacon Hill, empresa offshore usada por doleiros brasileiros para lavagem de dinheiro fechada pelas autoridades americanas em 2003. A DNA teria remetido cerca de US$750 mil por este canal. Na base de dados sobre as remessas de dinheiro feitas pela Beacon Hill, constam ainda cinco operações em nome de Marcos de Souza, morador de Belo Horizonte, no total de US$750 mil, de dezembro de 2001 a agosto de 2002.

Dinheiro teria saído do país por meio de doleiros

CPI investiga se a DNA usou esquema descoberto pelo BC

BRASÍLIA E BELO HORIZONTE. As investigações indicam que as empresas de Marcos Valério entregavam o dinheiro a doleiros de Belo Horizonte, que se encarregavam de transferi-lo por meio de suas contas nos Estados Unidos para as contas do publicitário em bancos como o First Union, o Fleet National Bank, o Miami Delta Bank e o Latin Finance, nos EUA.

A CPI investiga também o envolvimento da DNA Propaganda Ltda num esquema de evasão de divisas descoberto pelo Banco Central em Minas Gerais, em 2001. O nome da agência consta da relação de clientes da Infotrading do Brasil, denunciada pelo Ministério Público Federal por simular importações e remeter ilegalmente para o exterior US$7 milhões, entre agosto e dezembro de 2001.

Ao denunciar o esquema de pagamento de mesadas a deputados da base aliada, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, disse ter ouvido do ex-ministro José Dirceu que havia um problema para que o acordo pelo qual o PT repassaria ao PTB R$20 milhões fosse honrado. Segundo Jefferson, Dirceu teria atribuído à prisão de doleiros na Operação Farol da Colina as dificuldades para que os recursos chegassem ao PTB.

Empresário pode ter usado o esquema da Beacon Hill

Na época, Dirceu teria chamado a Polícia Federal, que fez a operação, de tucana. Na mesma época, começou a faltar dinheiro para pagar os profissionais contratados pela Estratégica, empresa de Valério, para fazer as campanhas do PT às prefeituras de Osasco e São Bernardo do Campo.

Os integrantes da CPI investigam ainda a existência de uma subconta que fazia parte das operações financeiras da Beacon Hill nos Estados Unidos que teria sido usada por alguma das empresas de Valério. Aberta em nome de uma empresa chamada Lonton, pela conta podem ter passado recursos enviados pelo publicitário ao exterior.

Em outubro de 2003, Valério chegou a prestar um depoimento à Polícia Federal, por solicitação da CPI do Banestado, para esclarecer as operações nas quais o nome da DNA aparecia. O publicitário limitou-se, entretanto, a negar ter usado doleiros ou casas de câmbio para fazer operações no exterior.

Levantamentos feitos pela Receita Federal e pelo Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf), enviados à CPI dos Correios, mostram que nos últimos cinco anos apenas pelas contas pessoais do publicitário passaram aproximadamente R$46 milhões. Os mesmos documentos revelam que, pelas contas das agências SMP&B e DNA Propaganda, das quais Valério é sócio, passaram mais de R$1 bilhão no mesmo período.

COLABOROU: Rodrigo Lopes, especial para O GLOBO

Legenda da foto: VALÉRIO: empresas operavam com a Beacon Hill, empresa offshore