Título: Procurador: não há indícios contra autoridades
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Fonte: O Globo, 09/07/2005, O País, p. 11

Antônio Fernando de Souza diz que ainda faltam evidências materiais do suposto pagamento de mesada a deputados

BRASÍLIA. O novo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, disse ontem que até agora não existem indícios suficientes para justificar a abertura de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) contra autoridades envolvidas no suposto pagamento de mesada a deputados. Souza disse que só pedirá uma investigação no STF se conseguir reunir provas materiais que atestem a ocorrência do mensalão. Segundo ele, a reunião desses documentos ainda está longe de ocorrer.

- Até agora só existem testemunhos e nenhuma prova material. Essas informações, no estado em que se encontram, são incompletas. Quando se fala em pagamento de mesada, tem que haver a comprovação. Não vou entrar com ação no STF enquanto não conseguir reunir o máximo de provas - disse.

Não existe qualquer investigação no STF voltada para as denúncias feitas à imprensa pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). A maioria dos suspeitos de participar do esquema tem foro privilegiado, pois são parlamentares. Portanto, o destino judicial do grupo está nas mãos do procurador-geral. É dele a competência exclusiva de propor a instauração de inquéritos ou processos contra essas autoridades ao STF.

No início do mês, o então procurador-geral, Cláudio Fonteles, chegou a abrir um procedimento investigativo interno para apurar os fatos. Enviou ofícios a boa parte dos citados por Jefferson pedindo esclarecimentos. Logo que foi empossado, na semana passada, Souza começou a receber as respostas aos questionamentos. Na avaliação do procurador-geral, as respostas não apresentam novidades em relação às versões apresentadas até o momento.

- É uma questão de tempo. O tempo do Ministério Público é diferente do tempo da imprensa. A minha experiência mostra que, se não existirem indícios consistentes já no começo, a investigação corre o risco de não ter sucesso.

Souza deverá solicitar mais dados nos próximos dias a órgãos oficiais. O procurador-geral admitiu, ainda, solicitar documentos obtidos pela CPI dos Correios, como, por exemplo, os extratos obtidos a partir da quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico de quatro petistas que colocaram esses dados à disposição das investigações. São eles o presidente do PT, José Genoino, o ex-secretário-geral do partido Sílvio Pereira, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o deputado José Dirceu (PT-SP).

Apesar de ainda não ter convicção da veracidade das denúncias de Jefferson, o procurador-geral considerou grave a possibilidade de haver no governo o pagamento do chamado mensalão.