Título: Indicação de Marinho surpreende empresários
Autor: Geralda Doca/Isabel Braga/Luiza Damé
Fonte: O Globo, 09/07/2005, O País, p. 13

Sindicalistas e setores do governo também foram pegos de surpresa. Lula confirmou nomeação na posse dos novos ministros

BRASÍLIA. A indicação do presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho, para o Ministério do Trabalho, em substituição a Ricardo Berzoini, pegou de surpresa empresários, sindicalistas e até setores do governo. Para interlocutores do Planalto, faltou uma análise política mais apurada sobre os impactos dessa decisão, pois o presidente Luiz Inácio Lula da Silva transportou o dirigente da maior central sindical do país diretamente para o comando do ministério.

Na solenidade de posse dos três ministros do PMDB, Lula confirmou a nomeação. O próprio Marinho, ao deixar a Granja do Torto no início da tarde de ontem, havia anunciado que seria ministro do Trabalho, em substituição a Berzoini, que pôs o cargo à disposição há três semanas e voltará para a Câmara.

A posse do novo ministro do Trabalho será na próxima semana. Antes ele precisa acertar o processo de transição na CUT. O vice-presidente da central é Wagner Gomes, mas pelos estatutos a direção terá de escolher o novo presidente. Marinho disse que foi sondado por Lula há dias, mas o convite só foi formalizado na manhã de ontem, em reunião de última hora.

Monteiro: "Tudo vai depender da postura dele"

Marinho afirmou que foi convidado para assumir o ministério com a missão de ajudar o governo a sair da crise:

- O cenário é que leva a esse convite, já que o presidente pretende reforçar a ação no Congresso, mas não desguarnecer a equipe de governo. Se tivesse tudo na normalidade, isso não estaria acontecendo e sequer eu pensaria nessa possibilidade.

Marinho disse que vai dar continuidade ao trabalho de Berzoini, mas com inovações, e que vai coordenar a comissão do governo para discutir a recuperação do salário-mínimo.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, disse que o setor se preocupa com o comportamento do líder sindical à frente da pasta. Marinho, diz ele, precisa compreender que não é mais representante de uma corporação e que terá que dialogar com todos os segmentos da sociedade.

- Não quero prejulgar, mas tudo vai depender da postura dele, que terá um papel político a exercer - afirmou Monteiro, acrescentando que a reforma da CLT, que contraria interesses dos trabalhadores, é prioridade para o mercado de trabalho.

Já o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, festejou a indicação. Para ele, Marinho poderá acelerar a reforma sindical no Congresso e ajudar a tomar medidas como a redução da jornada de trabalho sem redução de salário, pleito antigo do movimento.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, elogiou a indicação.

- Ele é um líder sindical de prestígio, com bom trânsito entre trabalhadores, lideranças patronais e empresariais.

COLABOROU Adauri Antunes Barbosa

Metalúrgico moderado nas cobranças ao companheiro

Marinho já teve cargo no governo

BRASÍLIA. O líder metalúrgico Luiz Marinho, que entrou para o movimento sindical incentivado por um irmão quatro anos mais velho, mudou o tom dos discursos contra todos os governos quando o companheiro Lula chegou ao Palácio do Planalto. Logo no início do governo petista, Marinho foi nomeado presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), órgão do qual hoje é apenas conselheiro.

Aliado e amigo de Lula, o metalúrgico de 45 anos é presença freqüente no Planalto, mesmo nos momentos de embate entre o movimento sindical e o governo. Casado, dois filhos, foi eleito presidente da CUT em junho de 2003.

No comando da entidade defendeu aumento do salário-mínimo e correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física, mas sem entrar em confronto com o governo. Esteve com sindicalistas no Planalto para tratar dos dois assuntos, mas foi sempre moderado nas cobranças ao presidente.

Marinho se tornou metalúrgico em 1978. Em 1984, foi eleito tesoureiro do Sindicato do ABC. Foi secretário-geral e vice-presidente e, de 1996 a 2003, presidiu a entidade.

PALAVRA DE ESPECIALISTA

João Guilherme Vargas Neto / Consultor sindical

'Ele terá de dizer a que veio'

O consultor sindical João Guilherme Vargas Neto descarta as comparações entre a escolha de Luiz Marinho e a nomeação de outro sindicalista, Antônio Rogério Magri, ministro do Trabalho de Fernando Collor. São coisas diferentes, em momentos diferentes, mas a de agora precisa mostrar a que veio.

- O presidente recorreu a uma reserva do movimento sindical ligado a ele. É uma solução com densidade, importante, mas vai exigir do Marinho grandes responsabilidades - aponta.

Para Vargas Neto, as agendas do setor trabalhista são o desafio no caminho do novo ministro.

- Sua escolha, avalizada pelas centrais sindicais, terá sido positiva se for para arregaçar as mangas e trabalhar reconhecimento pleno das centrais, o aumento da representatividade, temas, enfim, urgentes nesse setor. Além disso, um ministro forte poderá enfrentar, mesmo nesse Congresso conturbado, a luta pela política permanente de recomposição do mínimo, pela redução da jornada, entre outras. Mas se a escolha de Marinho for apenas para composição política, o dano será grande.

Legenda da foto: MARINHO acena ao deixar a Granja do Torto após convite de Lula