Título: Lula: Gushiken só deixa o governo se quiser
Autor: Cristiane Jungblut e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 09/07/2005, O País, p. 15

Presidente recusa pedido de demissão mas deixa ministro da Secom à vontade para decidir o seu futuro

BRASÍLIA. Na cerimônia de posse dos três novos ministros do PMDB, ontem à tarde no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o ministro da Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica (Secom), Luiz Gushiken, continua no governo e só sairá do cargo se quiser. Lula referiu-se a Gushiken quando disse que as denúncias serão investigadas no momento certo e com os critérios certos, mas que não se pode adotar a pena de morte na política e que as ilações não podem dominar a política nacional.

- Quero dizer aqui, para todo mundo ouvir, que o companheiro Gushiken continuará dirigindo a Secom. A não ser que, em algum momento, ele fale: você quer, mas eu não quero, então, vou embora. Aí, eu não posso segurar na marra - disse Lula.

Últimas mudanças serão anunciadas terça-feira

No próprio governo, a interpretação é de que o presidente, na prática, repassou a decisão para o ministro, alvo de denúncias de envolvimento com supostas operações irregulares com fundos de pensão. O presidente disse que pretende anunciar todas as mudanças na sua equipe na terça-feira e avisou que sairão os ministros e dirigentes de estatais que serão candidatos em 2006.

Gushiken, que estava na cerimônia de posse, conversou antes com Lula, quando o presidente decidiu recusar seu pedido de demissão. Na quarta-feira, Gushiken havia colocado o cargo à disposição. Na quinta-feira, diante da reação de ministros petistas, Gushiken mudou o discurso e disse que a decisão final estava nas mãos de Lula.

Gushiken é citado em denúncias de que uma revista de seu cunhado teria aumentado a publicidade oficial na gestão Lula e de que a sua ex-empresa, a Globalprev, teve aumento de 600% no faturamento.

- Acho que o companheiro Gushiken cuida bem não apenas da Secretaria de Comunicação, mas do Núcleo de Assuntos Estratégicos. Estou dizendo isso para acabar com os boatos. Ele só sairá por vontade dele - disse Lula: - Quem fizer acusações precisa provar. Porque, senão, as ilações tomarão conta da política nacional e eu acho que precisamos tratar esses assuntos com carinho.

Na posse dos ministros do PMDB - Hélio Costa (Comunicações); José Saraiva Felipe (Saúde); e Silas Rondeau (Minas e Energia) - o presidente não perdeu a oportunidade de falar ironicamente sobre o PT quando falava das divisões do PMDB.

- O PMDB está conseguindo a proeza de ter tantas tendências quanto o meu PT.

Para fechar a reforma ministerial, Lula deverá atrasar sua viagem para Paris, prevista para quarta-feira.

- Acho ótimo que as pessoas queiram ser candidatos a alguma coisa. Só que o governo não pode ficar na pendência de chegar no mês de abril e alguém comunicar ao presidente (que é candidato) - disse Lula.

Lula agradece a lealdade de ministros

Na cerimônia, Lula agradeceu a lealdade dos ex-ministros, como Eunício de Oliveira (PMDB), que comandou Comunicações. Ao falar do ex-ministro Humberto Costa, que deixou a Saúde para ser candidato em 2006, lembrou que eram de correntes diferentes do PT mas destacou atos da sua gestão:

- Nem sempre bicamos a mesma fruta. Porque o Humberto no começo do PT pertencia a corrente que não era a minha .

No final do discurso, Lula deixou em aberto até mesmo seus planos eleitorais, ao se dirigir aos ministros que estavam saindo:

- Estaremos juntos em algum lugar. Não sei se em algum palanque.

Legenda da foto: LULA DISCURSA na posse dos novos ministros observado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, e os ministros Costa, Rondeau e Saraiva Filho