Título: SINDICALISTAS QUEREM ANTECIPAR NEGOCIAÇÕES
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 09/07/2005, Economia, p. 26

Categorias com data-base no 2º semestre temem ser prejudicadas com contágio da economia por crise política

SÃO PAULO. Sinais desencontrados sobre a tendência das vendas e o temor de que a crise política passe a contaminar o ambiente econômico ameaçam o sucesso das campanhas salariais neste segundo semestre do ano, que reúne categorias como metalúrgicos, químicos, bancários e petroleiros. Numa ação preventiva, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo marcou para este domingo uma assembléia para discutir a antecipação das negociações salariais.

A categoria, vinculada à Força Sindical, tem data-base em novembro. Há indicações de que no setor de calçados, duramente afetado pela desvalorização do dólar e a invasão de similares chineses, as conversas fluirão também com alguma dificuldade.

- As empresas estão com medo de investir e os trabalhadores, com medo de consumir, porque não sabem no que vai dar a CPI e que rumos a economia vai tomar. Esse quadro vai complicar a campanha salarial das categorias que têm data-base neste segundo semestre - afirmou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Eleno Bezerra.

Na assembléia programada para domingo, a idéia é discutir o início da mobilização sindical nas fábricas e a aprovação de uma pauta de reivindicações - movimento que normalmente não acontece antes de setembro. O esforço da entidade, que tem uma base de 250 mil trabalhadores, é essencial para definir o rumo da campanha de outros 51 sindicatos de metalúrgicos ligados à Força Sindical no estado.

No total, as negociações envolvem 700 mil trabalhadores, que no ano passado conseguiram fechar acordo com aumento de 9,95%, incluindo ganho real de 4%.

- Em 2004, com a euforia do crescimento, conquistamos esses 4%. Este ano, o que nos reserva? Por isso, estamos mobilizando a categoria mais cedo para termos força para pressionar os empresários a garantir o melhor possível - completou Eleno.

Na quarta-feira passada, a Federação Estadual dos Metalúrgicos (FEM), ligada à CUT, definiu com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) uma agenda de negociações para o chamado Grupo 9, integrado por empresas dos ramos de bens de capital e eletroeletrônicos. Um nova rodada de conversas foi marcada para os dias 20 e 27 deste mês. Escaldado por negociações anteriores, o presidente da FEM, Adi dos Santos, diz que está preparado para "ouvir muito choradeira":

- Sei que os empresários vão colocar na mesa a questão de que a economia vai crescer menos neste ano, que temos uma forte valorização do real frente ao dólar e que os juros são maiores agora. Toda negociação é difícil.

No 1º semestre, 80% dos reajustes acima da inflação

Santos não tem uma visão tão pessimista sobre o futuro da economia quanto Eleno Bezerra, apostando que o crescimento das exportações das montadoras terá reflexos positivos em vários setores da cadeia. Mas ele diz que há hoje maior cautela por parte das empresas do que no primeiro semestre.

- Apesar disso, em nenhum dos grandes setores há um programa de corte na produção - ressaltou Santos.

A pauta de reivindicações entregue no dia 1º deste mês aos empresários prevê reposição da inflação passada e a concessão de aumento real (não definido), fim das horas-extras e redução da jornada de trabalho sem alteração dos salários. A FEM representa 13 sindicatos e 230 mil trabalhadores. Uma dificuldade extra é o fato de esses sindicatos terem data-bases diferentes. O Grupo 9, o primeiro a negociar, tem data-base agora em agosto. Montadoras, autopeças e fundição, em setembro, e lâmpadas e estamparias, só em 1o de novembro. A FEM está tentando unificar o calendário.

Um balanço preliminar do Dieese mostra um resultado positivo no primeiro semestre deste ano. De um total de 45 negociações, 80% fecharam com reajustes acima da inflação acumulada nos últimos 12 meses anteriores à data-base. Mais: 89% repuseram pelo mesmo a inflação passada. O supervisor do Dieese em São Paulo, José Silvestre, afirmou que o resultado neste segundo semestre não será tão ruim como temem os sindicalistas:

- Em 2004, de 660 negociações 80% conseguiram pelo menos a inflação do período. Talvez não tenhamos neste ano essa mesma proporção, mas não será ruim.

Legenda da foto: ELENO BEZERRA: "As empresas estão com medo de investir e os trabalhadores, com medo de consumir"