Título: PREÇOS MAIS ALTOS AQUI DO QUE LÁ FORA
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 10/07/2005, Economia, p. 30

Tiragens maiores ajudam a reduzir os custos das publicações no exterior

RIO, PEQUIM, BUENOS AIRES, NOVA YORK e PARIS. Os escritores estrangeiros que, nos últimos dias, tomaram as ruas de Paraty na Festa Literária Internacional da cidade, a Flip, encontram aqui uma realidade de mercado bem diferente de seus países de origem. Pesquisa feita pelos correspondentes do GLOBO em livrarias de França, Estados Unidos, Argentina e China constatou, na maioria das vezes, preços mais em conta do que os cobrados no Brasil.

Um sucesso de vendas como ¿Harry Potter e a Ordem da Fênix¿, que aqui tem preço de tabela de R$66,50 (o equivalente a US$28), nos Estados Unidos sai a US$19,79 e na Argentina, US$17,39. E, neste caso, a tiragem ¿ argumento usado pelos editores brasileiros para justificar seus preços ¿ não faz tanta diferença. O livro saiu no Brasil com 300 mil exemplares, enquanto na média a tiragem dos títulos bem vendidos aqui não chega a 5 mil.

`Harry Potter¿ custa mais caro do que na Argentina

Mas, às vésperas do lançamento da sexta edição da série do famoso bruxinho ¿ que chega às livrarias no próximo dia 16 ¿ o leitor mais persistente encontrará o quinto volume, ¿A Ordem do Fênix¿, por até R$42,10 em promoções, ou US$17,73. Mais barato do que nos EUA, porém ainda um pouco mais caro do que na Argentina.

No caso do ¿Código Da Vinci¿, a tiragem maior ajudou a reduzir os custos, afirma Marcos Pereira, diretor da Editora Sextante. Com 30 mil exemplares na sua primeira edição, o livro foi lançado por R$39,90, preço que, segundo Pereira, ficava abaixo da média do mercado para um similar com mesmo acabamento e número de páginas.

Na comparação com outros países, o preço de tabela do ¿Código Da Vinci¿ (R$39,90 ou US$16,80) fica um pouco acima de Argentina e EUA. Mas, nas promoções, a situação se inverte. Hoje, o livro já é encontrado por R$23,20, ou US$9,77, menos do que os US$14,97 cobrados nas livrarias americanas ou os US$14,64 nas de Buenos Aires. Na Argentina, os livros não pagam Imposto sobre Valor Agregado (IVA, de 21%) ¿ o equivalente ao nosso ICMS.

Geralmente, os livros na França de euro forte são muito mais caros. E a China, que mantém seu câmbio artificialmente depreciado, oferece preços baixíssimos. Apesar de sua população de 1,3 bilhão, os livros na China têm tiragem pequena, entre 3 mil e 5 mil exemplares.

O economista George Kornis, que recentemente preparou um diagnóstico do mercado editorial brasileiro junto com Fábio Sá Earp, afirma que o problema maior no Brasil não é o preço do livro, e sim a baixa renda da população. No seu estudo, os economistas mediram a capacidade de compra de livros em diferentes países. Assim, se um brasileiro gastasse toda a sua renda para adquirir livros, compraria 1.473 títulos por ano. Muito menos do que a média de 3.913 dos franceses, porém acima dos 780 dos chineses.

Kornis, porém, critica a gestão das editoras brasileiras:

¿ É um mercado concentrado, com mentalidade empresarial primitiva.

COLABORARAM Helena Celestino e Deborah Berlinck