Título: UMA FOTÓGRAFA, UM REPÓRTER E UMA GRÁVIDA NAS RUAS DO RIO
Autor: Ruben Berta
Fonte: O Globo, 10/07/2005, O Globo/Caderno Especial, p. 1

Assim como na gravidez de Maiara, nos nossos últimos quatro meses, tudo parecia remar contra o que hoje está nas páginas. Fomos apresentados pelo representante de uma ONG que trabalha com meninos de rua na metade de março àquela jovem com sua barriga no monumento do Maracanã, para a desconfiança total de todos no grupo. O receio inicial de lado a lado foi quebrado aos poucos e, nos momentos em que ela pensou em desistir da reportagem, o empurrão veio exatamente dos amigos de rua.

Desde o primeiro encontro, já era possível ver que a timidez daquela menina que pouco falou até o último encontro seria um desafio. Contamos sua história, mas pouco sabemos até hoje o que ela realmente pensa sobre sua vida, já tão exposta pela rotina das ruas.

Se não falava, fazer fotos então foi um parto à parte. O mau humor era constante quando minha colega Marizilda Cruppe tirava a máquina fotográfica da bolsa. Não foram poucas as vezes em que ela voltava de um dia de trabalho sem qualquer foto de Maiara: ¿Gosto de você, Mari , mas o problema é a câmera¿, dizia.

Sem celular, morando ora nas ruas, ora num barraco, no início tudo foi na base do recado. Pedíamos para quem a visse que avisasse que nós estávamos atrás dela. Quando a amiga Luara comprou um celular, foi a glória. Não passou um mês, o aparelho foi roubado e tudo voltou ao que era antes.

Por diversas vezes, Maiara cobrava: ¿Mas o que eu vou ganhar com essa reportagem?¿ Foram dezenas de explicações sobre a importância de sua paciência para mostrar essa realidade. Talvez assim seja possível mudar a de todos, ou mesmo a de alguns, que têm histórias semelhantes à dela. Se algo realmente vai mudar para Maiara? Só futuro vai dizer. (Ruben Berta)