Título: UM PROBLEMA QUE SE ARRASTA NAS RUAS DESDE O BRASIL COLONIA
Autor: Ruben Berta
Fonte: O Globo, 10/07/2005, O Globo/Caderno Especial, p. 1

No século XVII, eles eram chamados de ¿expostos¿, época dos primeiros relatos históricos sobre a infância abandonada no Rio de Janeiro. Hoje são meninos de rua, frutos de um problema social que se arrasta do Brasil Colônia até hoje.

A primeira tentativa de retirar as crianças das ruas foi do rei de Portugal, Pedro II, que em 1693 ordenou aos vereadores do Rio de Janeiro que alimentassem os enjeitados. A câmara do Rio na época chegou a abrigar 42 crianças.

Depois, veio a roda dos expostos, criada nas Santas Casas de Misericórdia para receber os recém-nascidos enjeitados. Dados de uma pesquisa do historiador Renato Pinto Venâncio, da Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais, mostram um alto índice de mortalidade nas rodas durante o século XVIII: em cada mil crianças abandonadas, morriam em média 690. A morte de tantas crianças, decorrente da falta de condições dos hospitais, deu fim à roda do expostos.

¿ A sociedade ocidental sempre exclui pessoas e, no caso do Rio, os excluídos são menores enjeitados por suas famílias ¿ disse o historiador Milton Teixeira.

O tema, embora antigo, só passou a ser alvo de pesquisas nos anos 60, quando surgiu o interesse pela infância abandonada na Europa. No Rio, a questão ganhou a mídia décadas depois, na Chacina da Candelária, em 1993, quando oito menores foram mortos enquanto dormiam nas calçadas. Na época, o poder público calculava que cerca de 800 crianças viviam nas ruas da cidade. De lá para cá, o que mudou é que ninguém mais arrisca dizer quantos são.l