Título: Lula vai à luta
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 11/07/2005, O Globo, p. 2

Os últimos movimentos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostram sua disposição de lutar em defesa de seu mandato. O presidente trata de reforçar suas principais bases de apoio e que o levaram ao poder. Por isso, convidou o presidente da CUT, Luiz Marinho, para comandar o Ministério do Trabalho e liberou o ministro da Educação, Tarso Genro, para assumir a presidência do PT.

A presença de Marinho tem o efeito simbólico de reforçar o compromisso do governo com os movimentos sociais. E as mudanças no PT procuram criar as condições para que o partido saia da defensiva e volte a ter capacidade de iniciativa política. O presidente trabalha agora para estabelecer novos laços com o setor produtivo e faz esforços para atrair um empresário para sua equipe. Ao mesmo tempo, o presidente também procura reforçar seu apoio parlamentar. Na sexta-feira, deu posse a três ministros do PMDB, entre os quais o ministro da Saúde, Saraiva Felipe, que irá administrar R$29 bilhões, o maior orçamento da Esplanada dos Ministérios. Só falta agora o presidente Lula se acertar com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), que, na semana passada, ajudou o PMDB a bombardear a ida do deputado Delfim Netto (PP-SP) para o Ministério.

Pressionado pela tormenta política, o presidente Lula resiste à tentação de promover mudanças na política econômica, reivindicada por muitos de seus conselheiros, inclusive os moderados. Lula faz questão de dar apoio irrestrito ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, reafirmando seu compromisso com a estabilidade da economia e com o ajuste fiscal. E sinaliza nesta direção ao avaliar a possibilidade de o secretário-executivo da Fazenda, Joaquim Levy, assumir o Ministério da Previdência ou a presidência do INSS. O ministro Palocci emerge da crise como o homem forte de um governo fragilizado.

Os movimentos do presidente Lula revelam que ele não se considera abatido e, por isso, são poucas as chances de que venha a atender aos apelos feitos pela oposição para que renuncie à sua reeleição no ano que vem. Integrantes do governo chegam a dizer que se Lula fizer isso estará decretando o fim antecipado de seu governo. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), avalia que o governo mantém sua vitalidade e aponta três razões para tal: a popularidade do presidente Lula, o apoio de setores organizados da sociedade e o apoio de parcela das elites econômicas do país.

Frase do líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ): ¿O presidente Lula considera salvar o PT mais importante que o governo. O Tarso Genro é um dos ministros que têm o que apresentar.¿

Menos política e mais investigação

O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), acredita que os trabalhos da comissão entram numa nova fase. Pela primeira vez, desde que a CPI começou, os depoentes serão confrontados com documentos. Os ex-presidentes e diretores dos Correios terão que explicar contratos cujas cópias estarão nas mãos dos integrantes da comissão. A prioridade será analisar os contratos que conteriam irregularidades apontadas pelo ex-chefe de departamento Maurício Marinho.

¿ A CPI precisa produzir resultados técnicos, não pode ser só um showbusiness improdutivo ¿ diz Delcídio, que pôs no ar uma página na internet com todas as informações sobre o trabalho da CPI (www.cpmidoscorreios.org.br).

A oposição precisa reciclar seu discurso. O volume da movimentação financeira do empresário Marcos Valério de Souza, segundo o vice-líder do PSDB, Eduardo Paes (RJ), enfraquece a tese de que sua renda viria de contratos superfaturados ou irregulares da SMP&B e da DNA Propaganda com o governo Lula.

Grudado no osso

O ex-secretário de Comunicação do PT Marcelo Sereno resistiu até a última hora para ficar no cargo. Só se desligou da executiva quando ficou claro que seria destituído se não o fizesse. No meio da semana garantiu a petistas que não teria o mesmo destino de Delúbio Soares e Sílvio Pereira. Ele garantia: ¿Eu não vou sair, ninguém quer que eu saia¿. No sábado, foi substituído pelo ex-ministro da Saúde Humberto Costa.

O PRINCIPAL suspeito de ter desaparecido com documentos do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) entregues à CPI dos Correios é o deputado Onix Lorenzoni (PFL-RS).

IRONIA do senador Cristovam Buarque (PT-DF) sobre a composição da nova executiva do PT: ¿Primeiro o PT tomou conta do governo, agora o governo foi tomar conta do PT¿.

CONSTATAÇÃO do deputado Paulo Delgado (PT-MG), diante da divisão dos petistas: ¿A luta interna é mais importante que o embate externo, até nos momentos delicados prevalece a política de tendências¿.

E-mail para esta coluna: ilimar@bsb.oglobo.com.br

O candidato

O ministro Tarso Genro, que assumiu a presidência do PT, também deve ser o candidato do Campo Majoritário nas eleições diretas de 18 de setembro. Ele recebeu apelos para assumir a candidatura, mas argumentou que antes era preciso avaliar se ela representaria consenso. Se Tarso lançar-se, deixará numa situação difícil a deputada Maria do Rosário (PT-RS), candidata da tendência Movimento PT, a mesma do ministro.