Título: Rédea curta no PT
Autor: Soraya Aggege e Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 11/07/2005, O País, p. 3

Nova executiva cria agenda para controlar empréstimos bancários e contribuições de campanha de petistas

P ara evitar um desgaste maior, após a onda de denúncias envolvendo dirigentes do partido com o esquema do mensalão, a nova executiva nacional do PT decidiu ontem policiar todas as transações de petistas relativas à área financeira, como empréstimos bancários e contribuições de campanha. O novo tesoureiro do PT, deputado federal José Pimentel (CE), que substituiu Delúbio Soares, criará hoje um livro de agenda. Nele, constarão todos os encontros, visitas, negociações e relações dos membros do partido em todas as instâncias sobre essas questões. A agenda, que será aberta hoje, terá data, hora, local e tema da negociação.

¿ Toda a relação financeira que alguém tiver com partido, que não estiver neste livro, será considerada ilegal pela executiva partidária e quem tomar essa atitude estará sujeito às penas estatutárias e à comissão de ética ¿ disse.

Tarso disse que o PT cometeu um erro de achar que era dono da ética.

¿ Nós cometemos um erro de jogar exclusivamente sobre as costas do PT a imagem de que somos os donos da ética e da virtude. Isso não é verdade. Somos, sim, um referencial da ética e da virtude. Mas não somos os únicos. E não queremos, inclusive, ser os únicos.

Além disso, os ministros do PT no governo Lula serão agora monitorados em suas ações, até para uma eventual mudança na condução das políticas do governo, nos últimos 17 meses do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O novo presidente nacional do PT, ministro Tarso Genro (Educação), afirmou que todas as suspeitas de corrupção no PT serão investigadas com rigor. A idéia, segundo Tarso, é reconstruir o PT e acabar com a verticalização do poder interno, abrindo espaço para a conciliação.

Tarso anunciou que a comissão de ética do PT vai apurar se o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o ex-secretário-geral Sílvio Pereira cometeram irregularidades. Delúbio participou ontem da reunião da executiva do PT, deixando a cúpula petista ainda mais preocupada. De acordo com dirigentes do partido, o ex-tesoureiro não conseguiu esclarecer os contratos de empréstimos bancários e a crítica situação financeira em que deixou o PT.

Ministros petistas serão monitorados

A executiva também decidiu que os ministros do PT terão de ter um relacionamento mais próximo e formal com o partido. Tarso disse que não se pretende enquadrar ninguém.

¿ Mas os ministros devem ao partido informações e explicações sobre o trabalho que estão fazendo.

Um programa de relacionamento com os ministros será apresentado pelo novo secretário-geral, Ricardo Berzoini, que nesta semana deverá deixar o Ministério do Trabalho.

¿ Vamos examinar o trabalho que os ministros estão fazendo em seus ministérios. Isso não representa qualquer juízo prévio do trabalho que estão fazendo, que, na avaliação da executiva, até agora tem sido positivo.

Tarso não fez críticas diretas à gestão anterior, mas deixou claro que houve uma excessiva centralização das decisões e uma falta de humildade na avaliação das críticas. Nos últimos anos, o PT foi chefiado pelo ex-ministro José Dirceu (que deixou a presidência do PT em 2002 para participar do governo), pelo ex-secretário Sílvio Pereira, pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares, além do ex-presidente José Genoino, que assumiu o cargo no lugar de Dirceu e renunciou anteontem.

Tarso disse que não está descartada a realização de uma auditoria formal sobre as dívidas do PT. Já foi criado um grupo para apurar a situação.

¿ Nós já conversamos, preliminarmente, sobre as finanças do PT. O (José) Pimentel (novo tesoureiro) ficou mais careca do que ele já era. É uma enorme preocupação ¿ disse Tarso.

Antes de pedir auditoria externa, porém, Pimentel apresentará à executiva um levantamento da situação financeira do partido até o próximo dia 19, em nova reunião da executiva.

Segundo ele, a dívida com o publicitário Marcos Aurélio será prioridade. Em 2003, o PT tomou empréstimos de R$3 milhões no Banco Rural e de R$2,4 milhões no BMG que tiveram como avalista o publicitário.

¿ Obviamente, as dívidas que nos trazem dificuldades políticas, queremos nos livrar delas o mais rapidamente possível ¿ disse Tarso.

*Especial para O Globo

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