Título: Necessários
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Fonte: O Globo, 11/07/2005, Opinião, p. 6

Acrise do sistema de saúde no Brasil certamente teria assumido uma dimensão catastrófica não fosse o grande número de pessoas (cerca de 40 milhões) atendidas por planos particulares.

Esses planos, administrados por seguradoras, empresas de medicina de grupo, cooperativas, condomínios etc., são custeados pelos próprios participantes ou por seus empregadores, absorvendo parcela expressiva dos orçamentos familiares e significando mais encargos indiretos sobre a produção.

Ou seja, na prática trata-se de um ônus que o setor público transfere para os contribuintes. Mas é melhor que seja assim, pois provavelmente se arcasse com toda essa responsabilidade, o Estado, por sua ineficiência crônica, teria que aumentar a carga tributária proporcionalmente mais do que os gastos que os participantes têm com seus planos de saúde.

No entanto, tais planos precisam ser viáveis financeiramente, remunerando os serviços médico-hospitalares de forma adequada e cobrando dos participantes um valor compatível com a sua renda média.

Na prática o que se tem observado é que essa equação não fecha, e o resultado é que os participantes acabam tendo dificuldades para cumprir com suas obrigações, a qualidade dos serviços médicos fica comprometida e a situação financeira de alguns planos é delicada.

Uma agência reguladora foi criada com o propósito de conciliar esses interesses e tem feito um trabalho técnico (antes, os critérios de intervenção governamental no setor eram puramente políticos). Mas as soluções para os problemas terão de vir em boa parte dos administradores de planos e prestadores de serviços. A questão dos idosos, por exemplo, merece atenção especial. Uma espécie de poupança prévia deveria ser feita pelos planos exatamente para que nessa fase da vida, quando a demanda por serviços médicos aumenta naturalmente e a renda das pessoas cai, as contribuições não subam tanto.