Título: CPI SUSPEITA DE NOVOS REPASSES AO PT
Autor: Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 11/07/2005, O País, p. 8

Empresas de Valério e Renilda movimentaram R$531 milhões em 2004

BRASÍLIA. A CPI dos Correios já encontrou fortes indícios de que as firmas do publicitário Marcos Valério receberam recursos do caixa dois de outras empresas privadas nas últimas eleições municipais, repassando esses recursos para as campanhas do Partido dos Trabalhadores e de partidos aliados. A movimentação financeira das empresas de Valério e da sua mulher, Renilda, em 2004, reforça essa suspeita. Segundo informações encaminhadas à CPI pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), as empresas SMP&B, DNA, Multi Action, Graffiti e Estratégica movimentaram R$531 milhões no ano passado.

A CPI tem recebido relatos de candidatos que foram abordados por Marcos Valério em período pré-eleitoral com propostas de financiamento de campanha. Para um candidato à reeleição, o publicitário ofereceu os serviços de sua empresa em troca da lista de fornecedores da prefeitura. Ele teria se prontificado a arrecadar os recursos para financiar a campanha através dos contatos com essas empresas. Segundo relato do candidato, que não quer revelar sua identidade, o publicitário demonstrou grande conhecimento dos mecanismos de financiamento de uma campanha municipal, fazendo cálculos precisos do custo por eleitor, por exemplo.

Lorenzoni vê Marcos Valério como ¿lavanderia ambulante¿

Integrante da CPI dos Correios, o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) vem se debruçando sobre a movimentação milionária das empresas de Valério e já chegou a algumas conclusões. Ele acredita que essa movimentação inclui repasses do caixa dois de outras empresas privadas, que fariam apenas um passeio pelas contas das empresas de Marcos Valério, já que o destino final seria o financiamento de campanhas eleitorais do Partido dos Trabalhadores e de partidos da base de sustentação do governo Lula.

¿ Tudo indica que Marcos Valério atua como uma lavanderia ambulante de recursos destinados às campanhas¿ afirma o deputado.

Na semana passada, o depoimento do deputado Geraldo Tadeu (PPS-MG) na CPI dos Correios serviu para reforçar o raciocínio de Lorenzoni. Tadeu contou que, em 1999, quando era prefeito de Poços de Caldas (MG), foi procurado por Valério, que ofereceu os serviços de uma de suas empresas, a Feeling Propaganda, para arrecadar recursos para a sua reeleição. O deputado não aceitou a proposta e nem concorreu à reeleição.

Segundo políticos mineiros, além das campanhas já declaradas de Osasco e São Bernardo do Campo, em São Paulo, e de Petrópolis, no Estado do Rio, as empresas de Marcos Valério teriam participado ativamente de outras campanhas municipais em Minas Gerais, resguardadas pela estrutura do PT nacional. Uma das cidades citadas é Ipatinga, onde o candidato do Partido dos Trabalhadores, João Magno, teve amplo apoio financeiro e de infra-estrutura do PT nacional, com direito a show da cantora Wanessa Camargo. Ainda assim, perdeu a eleição, tirando o PT da prefeitura depois de 16 anos, num processo muito semelhante ao que aconteceu em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. (Regina Alvarez)