Título: CALOR DE 60 GRAUS, ANGÚSTIA E RATOS NA BUSCA SOB A TERRA
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 11/07/2005, O Mundo, p. 21

Equipes revelam detalhes dramáticos do resgate de corpos nos túneis do metrô. Mortos seriam mais de 70

LONDRES. A polícia de Londres anunciou ontem que outros 21 corpos foram retirados dos escombros da explosão que atingiu um trem da linha Piccadilly entre as estações de King¿s Cross e Russell Square, o que elevaria o total de mortos nos atentados de 7 de julho para mais de 70 pessoas. O número, porém, deverá aumentar, pois as equipes envolvidas na operação ainda não tiveram acesso total aos vagões atingidos, especialmente porque o local da explosão é um túnel a mais de 20 metros de profundidade.

`Parecia que alguém espalhara manequins pelos vagões¿

Um dos profissionais que participam do resgate contou ao tablóide ¿Sunday Mirror¿ detalhes dramáticos sobre o local do ataque. O sargento Steve Betts revelou um quadro apocalíptico, com cenas de corpos mutilados em meio às ferragens de vagões. As equipes de resgate precisam usar uniformes especiais para trabalhar no túnel, em que as temperaturas chegam a 60 graus. Há ainda a ameaça de desabamentos e os ataques da enorme quantidade de ratos que vive nas galerias do metrô.

¿ Logo após o atentado, tivemos que passar por cima de corpos e pedaços deles para tentar chegar a feridos. Parecia que alguém espalhara um monte de manequins pelos vagões. Uma cena que não vou esquecer pelo resto da vida ¿ afirmou o policial.

Celulares de vítimas tocavam, com mensagens de familiares

Betts falou ainda na angústia das equipes quando telefones celulares de vítimas começaram a tocar, em ligações ou avisos de mensagens de voz ou texto de familiares e amigos. Por fazerem parte da cena do crime, os aparelhos não puderam ser manejados.

Do lado de fora da estação de King¿s Cross, o público ¿ incluindo muitos turistas de passagem por Londres ¿ continua deixando flores e mensagens de apoio para as famílias das vítimas. As autoridades também têm de lidar com a angústia de parentes e amigos de desaparecidos. Desde quinta-feira, o serviço telefônico para informações do gênero já recebeu mais de 105 mil ligações. A aflição, no entanto, deverá se prolongar por várias semanas, até que os peritos identifiquem mortos e os hospitais, seus feridos. De acordo com informações oficiais o número de pessoas ainda internadas varia entre 65 e 84. (F.D.)