Título: Uma igreja polêmica
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 12/07/2005, O País, p. 5

Sacos de dinheiro vivo não são novidade na história da Igreja Universal do Reino de Deus. Em abril de 1990, num culto classificado pelo bispo Edir Macedo de ¿A sexta-feira da cura e da libertação¿, que reuniu cerca de 160 mil pessoas no Maracanã, a imagem de obreiros carregando sacos de dinheiro com as doações dos fiéis causou polêmica.¿ Para que alguém possa ser abençoado financeiramente, não há outro jeito senão dar, porque vocês sabem: é dando que se recebe ¿ disse Edir Macedo no fim do culto.A frase foi uma espécie de senha para que centenas de obreiros uniformizados saíssem com sacolas no meio da multidão recolhendo a contribuição dos fiéis.Em setembro de 1995, o ex-pastor Carlos Magno divulgou para a TV Globo uma fita em que Edir Macedo aparece agachado, ao lado do hoje senador Marcelo Crivella, nos fundos do templo de Nova York contando dólares avidamente e fazendo caretas irônicas para a câmera. Macedo só esperou o último fiel sair do templo para contar os dólares. As imagens, gravadas em 1990, mostram o bispo e seus pastores falando de caixa dois e de maneiras de iludir e arrancar mais dinheiro dos fiéis.Ao mesmo tempo que crescia fisicamente, cerca de três templos ao mês nos anos 90, a Universal investiu na compra de emissoras pelo país. Uma dessas negociações, a compra da TV Record Rio, denunciada pelo GLOBO em 1996, foi feita usando laranjas, que conseguiram empréstimo de duas empresas ¿ Investholding e Cable Invest ¿ localizadas em paraísos fiscais. Entre os sócios das empresas estava o hoje senador Marcelo Crivella. Em maio deste ano, o então procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a quebra do sigilo fiscal da Igreja Universal do Reino de Deus por crime contra a ordem tributária.Há um ano, Fonteles já havia pedido a quebra do sigilo fiscal ao ministro Carlos Veloso, relator do caso no STF. Em maio de 2004, porém, Veloso determinou que a Polícia Federal tomasse antes o depoimento de Crivella, do bispo Edir Marcelo, do ex-deputado Laprovita Vieira e de João Batista Ramos da Silva. Os depoimentos foram colhidos mas a decisão não saiu. A Igreja Universal, segundo o MPF, aparece como aparente proprietária das duas empresas. De 1992 a 1994, os diretores enviaram para essas duas empresas em paraísos fiscais cerca de US$18 milhões.