Título: MP investiga se Firjan pagava caixinha ao PT
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Fonte: O Globo, 12/07/2005, O País, p. 8

Auditora presa por fraudes revelou suposto esquema controlado por Dirceu para livrar empresas da fiscalização do INSS

O Ministério Público Federal investiga denúncias de corrupção que envolveriam a cúpula do PT e a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Uma gravação realizada em agosto do ano passado, divulgada ontem pelo ¿Jornal Nacional¿, mostra a existência de um suposto esquema para livrar empresas do estado das ações de fiscalização do INSS em troca de propina. As denúncias envolvem o ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu, citado como o responsável pelo acordo, e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que seria o encarregado de recolher o dinheiro.

O suposto esquema foi citado pela auditora fiscal do INSS Maria Auxiliadora de Vasconcelos, que era presidente de um sindicato de auditores e foi presa em maio deste ano acusada de fraudes. Em conversa gravada pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, ela revelou a outra auditora, Maria Teresa Alves, que esteve com o ex-ministro da Previdência Amir Lando. Ele teria revelado a ela a existência do esquema. Na reunião, Maria Auxiliadora teria entregado a Lando um dossiê com denúncias contra o superintendente do INSS no Rio, André Ilha.

¿ Chegou nas mãos dele (o dossiê a Amir Lando). Aí foi que ele disse: ¿Olha, na realidade, o que acontece é o seguinte: eu no Rio de Janeiro não vou mexer porque eu me comprometi. O Rio tem um contrato com a Firjan...¿ Ele mesmo abriu o jogo. A Firjan dá uma mensalidade, dá não sei o quê, que quem vai buscar é o Delúbio ¿ diz a auditora em um trecho da gravação.

Firjan diz desconhecer suposta ¿caixinha¿

Em outro trecho da conversa, Maria Auxiliadora dá a entender que o esquema já existia anteriormente e que teria sido mantido no governo do PT. Ela cita dois ministros da Previdência do governo Fernando Henrique: Waldeck Ornelas e José Cechin.

Ao ¿Jornal Nacional¿, Lando, que foi ministro entre janeiro de 2004 e março deste ano, negou a existência do esquema:

¿ O ministro José Dirceu jamais determinou que não se fiscalizasse o Rio de Janeiro. Pelo contrário. Nós recebemos denúncias de que as 500 maiores empresas do Rio não eram fiscalizadas há 10 anos.

Ornelas também negou:

¿ O meu período no Ministério é marcado pelo combate firme e rigoroso à corrupção.

Em nota, a diretoria da Firjan disse desconhecer a suposta ¿caixinha¿ e que jamais se reuniu com Amir Lando e com Delúbio Soares. Também em nota, Dirceu disse que as declarações são infundadas. Delúbio, André Ilha e Cechin também negaram o esquema.

¿ Nunca houve pressão política para fiscalizar ou não fiscalizar qualquer empresa ¿ disse Ilha.