Título: Surge o elo entre Valério e o deputado Janene
Autor: Chico Otavio e Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 12/07/2005, O País, p. 9

Empregado de corretor onde trabalha filha de pepista, Benoni de Moura sacou R$255 mil da conta da DNA

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Responsável por um saque de R$255 mil da conta da DNA Propaganda no ano passado, Benoni Nascimento de Moura é o elo entre a agência de Marcos Valério e o deputado José Janene (PP-PR), um dos parlamentares acusados por Roberto Jefferson de ser operador do mensalão. Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), entregue à CPI dos Correios, registra que o saque foi feito no dia 10 de setembro de 2004. Já na época Benoni era empregado da corretora de títulos Bônus-Banval, onde também trabalhava Michelle Kremmer Janene, filha do deputado.

Benoni trabalha na Bônus-Banval desde 15 de abril de 2004, como informa o Cadastro Nacional de Informações Sociais (Cnis). De acordo com documento da Coaf, Benoni alegou na época que o dinheiro seria destinado ao pagamento de fornecedores.

Embora seja um funcionário de baixo escalão na Bônus-Banval, Benoni fez o saque quando ainda morava em uma modesta casa na Vila Zatt, periferia de São Paulo. O senador Cesar Borges (PFL-BA), integrante da CPI, fará hoje um requerimento de convocação de Benoni.

¿ Não tenho dúvidas de que, com o avanço nas investigações, chegaremos a uma entrega de dinheiro por laranjas.

O dinheiro sacado por Benoni pode fazer parte do suposto esquema usado por Janene de arrecadação para o mensalão. Parte do dinheiro, segundo fonte ligada ao mercado de valores, pode ser encontrada se forem rastreadas as operações com títulos públicos na carteira de fundos de pensão de algumas estatais. Esses títulos são vendidos com deságio para uma empresa laranja, que os revende no mesmo dia pelo seu valor real e se apropria do lucro. O fundo de pensão tem o patrimônio dilapidado e a diferença vai parar no caixa do mensalão. É essa operação que seria feita por meio da Bônus/Banval. Ou pelo menos foi até bem pouco tempo.

Parte do lucro era depositada no exterior

Segundo a fonte, parte do lucro da operação era depositada diretamente no exterior, pelo doleiro Alberto Yossef, que já foi preso e condenado por remessa ilegal de recursos para o exterior. Passavam pela corretora de R$3 milhões a R$4 milhões por mês e Yossef recebia 0,8% do dinheiro transportado. O caminho do dinheiro tem sido bancos da Alemanha e de Israel.

Depois que começou a operar com a corretora, José Janene tinha a ajuda da filha Michelle Kremmer Janene, que trabalhava na empresa, onde foi estagiária entre novembro de 2003 e maio de 2004. Contratada como estagiária na corretora, Michele é dona em Londrina da Eletrojan Iluminação e Eletricidade, ao lado de Carlos Alberto Murari. Janene também seria dono da Mercoluz Construções Elétricas. O deputado do PP é acusado pelo Ministério Público do Paraná de improbidade administrativa, enriquecimento ilícito e desvio de verbas da prefeitura de Londrina.

A Bônus foi protagonista, em maio de 2004, de um rombo do qual só saiu vendendo seu título de corretora. Quando toda a cúpula da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) estava na China, com a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma operação da Bônus, de R$5,6 milhões, não foi liquidada. A mesma operação afundou a corretora Master, com um rombo de R$3 milhões. Para essa operação, realizada com papéis do índice Ibovespa futuro, a BM&F exigia garantias de R$56 milhões, que a Bônus não tinha. Para cobrir o rombo, vendeu seu título de corretora.