Título: ARAPONGAS SE ENGALFINHAM
Autor: Gerson Camarotti e Rodrigo Rangel
Fonte: O Globo, 12/07/2005, O País, p. 13

Briga entre GSI e Abin deve resultar em demissões

BRASÍLIA. A crise que tomou conta da área de inteligência do governo chegou ao terceiro andar do Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está preocupado com a queda-de-braço entre o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) , general Jorge Armando Félix, e o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Mauro Marcelo de Lima e Silva. É praticamente certo que a briga deve resultar na demissão de, pelo menos, um dos dois. Mas, segundo assessores do governo, o presidente analisa inclusive a possibilidade de demitir a cúpula da inteligência do governo ¿ GSI e Abin.

Oficialmente, a direção da Abin nega qualquer rusga com o general. Mas nos bastidores o clima é de confronto. Se por obediência à hierarquia os dirigentes da Abin minimizam o problema, a Asbin (Associação dos Servidores da Abin), entidade que representa os agentes, resolveu encampar a briga.

¿ Ele (Marcelo) não fala porque tem que engolir o sapo. Mas, mal ou bem, o general é nosso inimigo comum ¿ diz o presidente da Asbin, Nery Kluwe de Aguiar Filho.

A Asbin, diz Kluwe, não aceita a possibilidade de demissão do diretor-geral.

¿ Se alguém tem que ser demitido, é o general. Se o Mauro sair, o clima de insatisfação vai ser geral na Abin. O general vai querer botar um milico lá e isso nós não aceitamos ¿ diz.

O auge da crise ocorreu na quarta-feira passada, quando o general Félix convocou uma reunião no auditório da Abin, em Brasília. Segundo relato de integrantes da Abin, Félix fez uma dura cobrança sobre vazamento de informações do órgão. A reunião ocorreu na ausência de Mauro Marcelo, que estava no exterior.

O fato foi interpretado pela cúpula da Abin como uma intervenção direta do ministro no comando de Mauro Marcelo. A crise se acentuou no início do mês, quando o GSI abriu uma sindicância interna para apurar responsabilidade no vazamento de informações da Abin sobre corrupção nos Correios. Haveria 15 relatórios da agência sobre desvios na estatal e apenas uma parte desse material teria sido levada pelo general ao presidente. A Abin se nega a aceitar a pecha de que falhou no episódio.

A crise entre Abin e GSI não é de hoje. Escolhido pessoalmente por Lula, desde que assumiu o posto, ano passado, Mauro Marcelo briga para despachar diretamente com o presidente. Não foram raras as vezes em que ele tratou de assuntos da Abin direto com o então chefe da Casa Civil José Dirceu. Isso despertou a ira de Félix, a quem, em tese, o diretor-geral da Abin deveria ser subordinado.

Com a queda de Dirceu, Mauro Marcelo tentou uma composição com a nova titular da pasta, Dilma Rousseff, que teria se recusado a tratar de assuntos de arapongagem. Félix, então, decidiu retomar o controle da Abin.

Diante da crise, Lula mandou um recado para que Félix e Mauro Marcelo recompusessem a relação. Félix negou que exista desentendimento entre ele e Mauro Marcelo.