Título: LIBERDADE CELULAR
Autor: Mirelle de França
Fonte: O Globo, 12/07/2005, Economia, p. 21

Lojas e sites, cada vez mais, oferecem aparelhos sem vinculação com operadoras

Omercado de telefonia móvel, mais maduro e consolidado, entra agora na fase do celular avulso, ou seja, do aparelho sem vínculo com operadora. Nos últimos meses, aumentou o número de redes de varejo e lojas virtuais que negociam o aparelho diretamente com os fabricantes. Para o usuário, que há sete anos entrava na fila para ter acesso ao serviço ¿ antes da privatização, oferecido por apenas uma empresa ¿ a novidade significa liberdade para comprar o aparelho e só depois escolher a companhia telefônica.

A venda de celulares avulsos ganhou força principalmente entre os equipamentos com tecnologia GSM, utilizada pela maioria das operadoras no país (TIM, Oi, Claro e Brasil Telecom). Isso porque o sistema permite, em princípio, trocar de empresa sem mudar de aparelho. Como a tecnologia CDMA só é utilizada pela Vivo, quem comprar um celular avulso com esse sistema será obrigado a se tornar cliente dela.

O principal motivo para as operadoras pararem de vender aparelhos é a consolidação do mercado. Para conquistar clientes e mantê-los em um cenário mais competitivo, as companhias investiram pesado no subsídio dos aparelhos que eram vendidos com descontos de até 70%, ou saíam de graça, como no caso de planos corporativos. Agora, elas querem investir na qualidade e na ampliação dos serviços.

¿ Vender celular é o pior negócio que temos. Perdemos dinheiro, porque temos de subsidiar os aparelhos. Queremos incentivar o varejo a vender de forma independente os produtos e sair desse negócio, que não é o nosso ¿-- afirmou Alberto Blanco, diretor de Marketing da Oi.

Avulso: além do preço, lançamentos

Blanco explica que, na maioria das vezes, os aparelhos vendidos sem vínculo com operadoras são os mais caros ou fabricados em pequena quantidade. Em alguns casos, explicou, a Oi espera o varejo testar a demanda por um aparelho para então incluí-lo em seu portfólio. Ele ressalta que as operadoras sempre ficarão responsáveis por uma parcela da venda, mas acredita que a tendência é reduzir essa participação a longo prazo. Blanco cita o caso da China Mobile, com 250 milhões de clientes GSM, que não vende aparelhos.

A Claro, por sua vez, considera a venda de celulares avulsos um processo natural do mercado. Para a operadora, porém, essa modalidade não vai predominar no setor, já que o mercado é muito competitivo e, para atrair os clientes, ainda é preciso subsidiar os aparelhos.

O varejo comemora a novidade. O canal Shoptime começou a vender aparelhos avulsos há dois meses. Segundo Ricardo Noronha, diretor comercial da empresa, hoje são vendidos cerca de mil aparelhos por mês. O grupo fechou contrato com Siemens, Sony Ericsson e Gradiente e está negociando com outras marcas.

¿ As vendas têm sido um sucesso. Temos a preocupação de desbloquear os aparelhos para que possam ser usados pelo cliente de qualquer operadora GSM. Esse modelo de venda significa liberdade para o usuário ¿ explicou Noronha.

Ele disse que outro atrativo da venda avulsa é o acesso a lançamentos e modelos mais modernos. Noronha conta que, em breve, o canal vai vender, com exclusividade, um modelo Siemens com a grife Escada. Serão apenas 120 unidades, pela bagatela de R$2.900:

¿ Temos um público A e B que gosta de produtos exclusivos. Nesse caso, o aparelho é o mais importante. Vira um acessório de moda.

Mas não é só a liberdade de escolher aparelhos e o acesso a modelos top de linha que atraem o consumidor. A negociação direta com os fabricantes pode significar melhores preços, e condições de pagamento mais vantajosas.

No site Submarino, por exemplo, o modelo Nokia 6020 GSM saía por R$799 na modalidade avulsa. No mesmo site, o aparelho vinculado à Claro custa R$874 (pré-pago) e, à TIM, R$924 (pré-pago). A diferença é resultado da negociação comercial, mantida a sete chaves pelas empresas.

Mas comprar celulares avulsos também tem desvantagens e exige cuidado redobrado. Segundo o diretor de Assuntos Regulatórios da TIM, Paulo Roberto Araújo, o consumidor deve verificar, em primeiro lugar, se o aparelho foi homologado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Ele alerta para não comprar aparelhos no exterior:

¿ O consumidor também tem que se preocupar com assistência técnica. Se a marca do celular avulso for desconhecida, ele pode ter dificuldades ¿ disse Araújo, lembrando que é preciso exigir a nota fiscal.

Motorola: tendência do mercado

O diretor da TIM ressalta que as operadoras testam os modelos que vendem, o que pode não acontecer com o celular avulso. Além disso, o consumidor ainda terá de adquirir o chip de uma operadora ¿ que custa, em média, R$20 ¿ e configurar o celular com a empresa.

¿ O aparelho avulso está pronto apenas para o uso básico, ou seja, os serviços de voz. Para mensagens de texto, fotos e internet, por exemplo, é preciso configurar o aparelho ¿ disse Araújo, reconhecendo, porém, que o comércio de aparelhos não é o principal negócio das operadoras. ¿ A venda avulsa é muito bem-vinda. Espero que seja uma tendência.

Os fornecedores também vêem a mudança com bons olhos. A Nokia começou a vender aparelhos diretamente para o varejo no fim de 2004 e mantém um site onde oferece os produtos. Além das redes tradicionais, a empresa fechou acordo com lojas de roupas como Track & Field e Clube Chocolate, para vender produtos exclusivos. Mas o diretor de Vendas da empresa, Gustavo Jaramillo, acredita que a parceria com as operadoras vai permanecer.

A diretora de Marketing da Motorola, Loredana Mariotto, disse que a empresa ainda não vende diretamente ao varejo, mas estuda o modelo do celular avulso:

¿ É uma tendência de mercado.

O tesoureiro José Carlos Silva comprou um celular avulso no Shoptime e aprovou. Segundo ele, a principal vantagem foi o preço:

¿ Cheguei a ver o aparelho que comprei por R$899 em outras lojas e vinculado às operadoras, mas acabei pagando R$699 no avulso e, só depois, escolhi a empresa.