Título: ARGENTINA VENDE BÔNUS E RISCO ENCOSTA NO DO BRASIL
Autor: Janaina Figueiredo e Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 12/07/2005, Economia, p. 23

Indicador argentino está em 415 pontos, ante os 411 brasileiros. País emite o equivalente a US$350 milhões

BUENOS AIRES e RIO. O governo argentino emitiu ontem 1 bilhão de pesos (cerca de US$350 milhões) em bônus com vencimento em 2014 (Boden 2014), que saíram com juros de 5,20% mais correção pela inflação, que este ano deverá atingir em torno de 10%. Foi a segunda captação realizada pelo governo Néstor Kirchner em menos de uma semana e a terceira desde a reestruturação da dívida envolvida na moratória decretada em 2001 e que correspondia a US$102,5 bilhões.

Na quinta-feira passada, o governo leiloou 1 bilhão de pesos em Boden 2014, que pagaram juros de 5,51% mais CER (indicador ligado à inflação). A primeira captação ocorreu em 4 de maio passado: 1 bilhão de pesos em Boden 2014, pagando juros de 6,5% mais CER.

Segundo Tomás Málaga, economista-chefe do Itaú, o fato de os títulos terem ganho atrelado à inflação atraiu investidores de olho na alta dos preços no país. As ofertas pelos papéis chegaram a 5,086 bilhões de pesos. Na oferta da semana passada, a demanda havia sido de 8,7 bilhões de pesos. A taxa de risco do país ¿ que é calculada pelo J.P. Morgan e mede a confiança dos investidores estrangeiros no país ¿ que em fevereiro passado, antes da renegociação da dívida, alcançava 5.100 pontos, caiu para 415 pontos.

¿ Se somarmos os juros de hoje (ontem) à inflação projetada para este ano, os títulos renderão 15% ao ano. Com o dólar praticamente congelado, os investidores pretendem fazer um bom negócio a curto prazo ¿ explicou o analista Rafael Ber, da Argentine Research.

E os recursos usados para comprar os bônus de ontem não deverão cumprir duas regras adotadas recentemente pelo Banco Central para reduzir capitais especulativos no país: não precisarão ficar, no mínimo, um ano no país nem pagar compulsório de 30%, segundo Luis Corsiglia, diretor da Caixa de Valores de Buenos Aires.

Para Fitch, crédito da Argentina continua ruim

Para Felipe Brandão, diretor de Mercados Emergentes da corretora Garban/Icap, a nova emissão pode fazer com que o risco do país recue para níveis inferiores ao do Brasil, ontem em 411 pontos (alta de 0,49%):

¿ O risco-Argentina caiu muito porque os papéis da época do calote saíram de cena e o país emitiu títulos com vencimento entre 2010 e 2014. O risco de curto prazo atrai investidores. O papel argentino mais negociado vence em 2012. Já o mais procurado do Brasil, em 2040.

¿ Do ponto de vista de crédito, não há comparação entre os dois países. Para a Fitch, a Argentina ainda é um país com dificuldade de honrar pagamentos e o Brasil está a apenas três níveis do grau de investimento ¿ diz Rafael Guedes, diretor da agência Fitch Ratings.

(*) Correspondente