Título: MERCOSUL: CALÇADISTAS PERTO DE ACORDO
Autor: Eliane Oliveira e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 12/07/2005, Economia, p. 23

Brasileiros reduzirão exportações à Argentina, mas exigem maior participação

BRASÍLIA e RIO. Brasil e Argentina estão prestes a fechar um acordo histórico na área de calçados. Os empresários brasileiros concordaram, na noite de quinta-feira passada, em reduzir suas exportações para o país vizinho, mas exigiram como contrapartida que a participação do Brasil no mercado argentino deve ser de, no mínimo, 75% do total importado.

¿ Enfim, podemos dizer que já existe um entendimento que também é favorável ao Brasil ¿ disse ao GLOBO o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Márcio Fortes de Almeida, que coordena, pelo Brasil, o grupo de monitoramento do comércio bilateral.

Segundo ele, os dois países ainda vão dimensionar de quanto será a redução das exportações de calçados para a Argentina, com base em uma série histórica dos últimos meses. Fortes de Almeida adiantou, no entanto, que a exigência do Brasil para que a margem de preferência brasileira fosse preservada funciona como uma espécie de blindagem contra a invasão dos produtos chineses no mercado argentino.

Pelo acordo, a Argentina se compromete a monitorar seu comércio de calçados, para não permitir desvios que beneficiem terceiros mercados.

¿ Queremos calcular um número de pares que entrarão no mercado argentino sem, no entanto, causar danos tanto para a indústria brasileira quanto para os produtores da Argentina ¿ destacou Fortes de Almeida.

Esse acordo deve pôr fim a uma briga que já dura dois anos. No fim do mês passado, diante da falta de consenso, autoridades argentinas avisaram que estavam dispostas a impor barreiras à entrada de calçados brasileiros. E deram um prazo de duas semanas para que houvesse um entendimento. No ano passado, os argentinos importaram do Brasil 14 milhões de pares de calçados.

Negociações agora serão sobre o setor automotivo

Resolvido o impasse nos calçados, o próximo embate entre Brasil e Argentina pode ser o Regime Automotivo do Mercosul. O sistema ¿ que determina que cada país só pode exportar US$2,6 em automóveis para cada US$1 importado de peças e partes de outro sócio do Mercosul ¿ deveria ser encerrado em janeiro de 2006. Os fabricantes de automóveis do Brasil já trabalham com a hipótese de os argentinos pedirem um pedido de adiamento por dois anos. O assunto será discutido em reunião em Buenos Aires, no próximo dia 29.

¿ O prazo é negociável. Só não queremos um retrocesso ¿ disse Luiz Moan, vice-presidente da Anfavea, a associação de fabricantes do Brasil.

Segundo Moan, os brasileiros não vão aceitar mais restrições no setor, como, por exemplo, uma maior exigência para a regra de US$1 importado por US$2,6 exportados.