Título: À espera do pior, Itália se prepara
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Fonte: O Globo, 12/07/2005, O Mundo, p. 26

Governo envia hoje ao Parlamento pacote antiterror

ROMA

Com o país sob alerta de segurança elevado e 20 mil agentes nas ruas vigiando possíveis alvos de atentados, o governo da Itália envia hoje ao Parlamento um pacote de medidas extraordinárias para combater a ameaça terrorista. Entre as medidas estão a ampliação da detenção preventiva, a vigilância dos correios eletrônicos e a concessão de benefícios a arrependidos que colaborarem com autoridades.

Oposição quer preservar liberdades

A nova legislação se baseia em boa parte nas normas jurídicas usadas na luta contra o grupo terrorista Brigadas Vermelhas e a máfia entre os anos 70 e 90. Uma das propostas é a criação de uma promotoria especializada, com magistrados que coordenem as investigações nacionais e internacionais. Além disso, seriam adotadas medidas especiais para acelerar a expulsão de suspeitos estrangeiros vinculados a organizações terroristas, guardar mensagens de e-mail por um ano e aumentar de 12 para 24 horas o período de detenção provisória de suspeitos.

Para muitos no país, depois dos atentados na Espanha e na Inglaterra, a Itália é um dos próximos alvos na mira do terror islâmico, sobretudo por sua participação na guerra do Iraque.

¿ Estamos conscientes do risco que corremos e tomamos todas as medidas necessárias para prevenir, identificar e combater os eventuais perigos ¿ disse o chanceler Gianfranco Fini.

Na tentativa de acelerar a aprovação do pacote, o governo procurou obter a concordância dos outros partidos, mas a oposição de esquerda se mostrou reticente em relação à nova legislação, embora tenha se disposto a colaborar. A oposição disse que no passado foi possível vencer terror e organizações criminosas sem atacar liberdades fundamentais, e que houve excessos por parte das autoridades.

¿ Avaliaremos atentamente a proposta do governo ¿ disse o ex-juiz Luciano Violante, porta-voz, na Câmara dos Deputados, dos Democráticos de Esquerda (DE), o maior partido da oposição. ¿ Vigiaremos para que não se limitem os direitos dos cidadãos e os espaços democráticos.

A tendência na oposição é o apoio a que se utilize a legislação vigente em vez de se criarem novas leis.

¿ Não devemos mudar nosso modo de vida, que significa liberdade, democracia e sociedade aberta, o que não impede que nos defendamos do modo mais eficaz possível do terrorismo ¿ disse o líder da oposição, Romano Prodi.

O espaço para o diálogo, no entanto, permanece aberto.

¿ Estamos diante de uma emergência e não deve ser considerado um tabu modificar nossa legislação ¿ ponderou Dario Franceschini, porta-voz do partido da coalizão de centro-esquerda La Margarita.

Desde os atentados de Londres, na quinta-feira, a Itália e o Vaticano aumentaram seus níveis de alerta.

No comunicado pela internet em que assumiu os ataques na Inglaterra, o desconhecido Grupo Secreto da Jihad da al-Qaeda da Europa ameaçou explicitamente a Itália e a Dinamarca, países que mantêm tropas no Iraque. Ontem, a sede do banco Capitalia foi evacuada por causa de uma alerta de bomba em Roma.

Roma mantém apoio à Turquia na UE

O líder oposicionista Romano Prodi tenta viabilizar uma proposta de consenso dos partidos de centro-esquerda para a retirada total dos três mil soldados italianos do Iraque.

Em Copenhague, a praça do palácio real de Amalienborg, residência da rainha Margrethe II, foi isolada após um pacote abandonado ter sido encontrado no local.

Uma das reivindicações da oposição como estratégia de combate ao terror é que os países islâmicos sejam envolvidos na caçada aos extremistas e na elaboração de uma política de segurança. Ontem, o governo italiano anunciou que continuará apoiando a entrada da Turquia na União Européia (UE), como forma de impulsionar o islamismo moderado.