Título: BRASIL RECEBE APOIO DE SUÉCIA E JORDÂNIA NA ONU
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 12/07/2005, O Mundo, p. 27

Treze países se manifestam a favor da ampliação do Conselho de Segurança. Argentina protesta

NOVA YORK. Boas surpresas. Ontem, no primeiro dia de discussão do projeto de reforma do Conselho de Segurança da ONU, Suécia e Jordânia apoiaram a proposta de Brasil, Alemanha, Índia e Japão (G-4) de criar mais seis vagas de membros-permanentes no mais importante fórum de discussão da paz e da guerra nas Nações Unidas.

Os outros 21 países que se inscreveram para manifestar a opinião sobre a reforma da ONU já tinham se declarado a favor ou contra e repetiram o script ensaiado, fazendo o dia fechar com um placar de 13 ¿sim¿ e dez ¿não¿.

¿ Só duas máscaras caíram até agora e descobriu-se que os países estavam a nosso favor ¿ disse o chefe da missão do Brasil na ONU, embaixador Ronaldo Sardenberg, que, em nome do G-4, abriu a sessão apresentando o projeto.

A Argentina foi um dos países a dizer ¿não¿. Num discurso pesado, denunciando pressões, o embaixador César Mayoral afirmou que o projeto do G-4 cria discriminação e hegemonias artificiais, o que será prejudicial para o trabalho do Conselho de Segurança.

¿ Necessitamos pagar todos pela teimosia de alguns países que querem obter prestígio através de seu ingresso como membros-permanentes? ¿ perguntou o embaixador ao plenário, sem se referir em nenhum momento especificamente ao Brasil.

China diz que processo está indo depressa demais

Foi num tom mais leve, mas usando argumentos semelhantes, o discurso dos outros países contrários à entrada de seis novos membros-permanentes no conselho. Alguns, como a China, reclamaram que tudo estava indo muito depressa. Outros disseram que regiões como a Europa estariam super-representadas, e um grupo reclamou que levar a questão a voto dividiria a ONU, uma atitude não aconselhável.

¿ Lembrei que há 12 anos se discute a reforma do Conselho de Segurança, portanto, é difícil argumentar que estamos correndo. O próprio G-4 já existe há dez meses e nosso projeto já está circulando desde 6 de junho. Tudo é oratória ¿ rebate Sardenberg, argumentando que em qualquer parlamento recorre-se ao mecanismo do voto.

Proposta depende de 128 votos na ONU

A previsão é de que 80 países entrem no debate sobre a ampliação do Conselho de Segurança, o tema mais polêmico da reforma da ONU. Serão necessárias, provavelmente, mais três sessões antes de se partir para o voto, o que ainda pode acontecer até sexta-feira ou no início da próxima semana.

¿ É um processo político que começou. Se sentirmos que tudo está muito favorável, aceleramos a agenda e pedimos a votação logo ¿ diz Sardenberg.

Para aprovar a proposta, são necessários 128 votos, ou seja, dois terços dos países-membros da ONU. Depois de ultrapassada esta primeira fase, passa-se para a aprovação do nome dos novos membros-permanentes do Conselho de Segurança e os candidatos são Brasil, Índia, Alemanha e Japão. Falta ainda escolher os dois representantes da África entre Nigéria, África do Sul e Egito, os três que já manifestaram interesse. Este fim de semana, em Nova York, os ministros dos países-membros do G-4 terão um almoço para fazer o balanço dos apoios e rejeições. Os opositores mais poderosos do G-4 são Estados Unidos e China, dois dos cinco atuais membros-permanentes (os outros são França, Inglaterra e Rússia).

¿ Vamos ganhar. As credenciais brasileiras para o posto são impecáveis ¿ diz Sardenberg.