Título: Gushiken fica no governo mas é rebaixado
Autor: Cristiane Jungblut e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 13/07/2005, O País, p. 10

Secretarias de Comunicação e Direitos Humanos perdem status de ministério; outros quatro ministros saem

BRASÍLIA. Em mais uma etapa da reforma ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem que Luiz Gushiken perdeu o status de ministro e que a Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica (Secom), chefiada por ele, passará a ser subordinada à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Na semana passada, Gushiken colocou o cargo à disposição e Lula respondeu que ele só sai do governo se quiser. Também perdeu status de ministério a Secretaria Nacional de Direitos Humanos.

O porta-voz da Presidência, André Singer, disse que Gushiken permanece como secretário. Mas integrantes do governo acreditam que a saída de Gushiken - desgastado com as denúncias sobre suas relações com os fundos de pensão - é uma questão de tempo. O Ministério da Coordenação Política foi fundido com a Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). Singer confirmou que o ministro Jaques Wagner, do CDES, assume a coordenação política e que Aldo Rebelo volta para o Congresso.

Eduardo Campos, do PSB, deixa a Ciência e Tecnologia e volta ao Congresso. O presidente anunciou as mudanças na reunião ministerial de ontem, que ocorreu após a posse de Luiz Marinho como novo ministro do Trabalho. Na reunião, Lula disse que o governo tem que reagir e sair da defensiva.

O presidente disse que as mudanças fazem parte da estratégia de reforçar a base no Congresso e a direção do PT.

- Somos diferentes. Vamos falar para a sociedade. Vamos agir. Temos um programa de governo, temos uma história - disse Lula aos ministros.

Reforma ainda não foi concluída

Mas a perda de status de Gushiken causou surpresa e até mal-estar na reunião. Lula, segundo ministros, comunicou a mudança e ressaltou que Gushiken estava em São Paulo naquele momento.

No lugar de Eduardo Campos, assumirá o físico Sergio Rezende, atual presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), indicado do PSB.

A Secretaria de Direitos Humanos volta a pertencer ao Ministério da Justiça. Nilmário Miranda pediu a Lula para deixar o cargo porque quer concorrer a presidente do PT de Minas e nas eleições de 2006.

Segunda-feira, Lula concluirá a reforma e dará posse aos novos ministros na terça-feira. Não está definido quem será o substituto de Romero Jucá na Previdência. Será um técnico, mas o nome de Joaquim Levy (Tesouro Nacional), preferido do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, enfrentou resistências. Será confirmado semana que vem para o Ministério da Educação o nome de Fernando Haddad, atual secretário-executivo do ministério, no lugar de Tarso Genro, que deixará o cargo dia 27 para assumir a presidência do PT. O ministro das Cidades, Olívio Dutra, deverá permanecer, apesar das pressões.

Lula disse aos ministros que quer viajar mais pelo Brasil, na tentativa de mostrar que o governo não está parado por causa da crise. Palocci mostrou a pesquisa CNT/Sensus segundo a qual Lula não teve a popularidade afetada pelas denúncias de corrupção. Todos aplaudiram o resultado. Mas coube ao presidente fazer um alerta sobre a "fragilidade das pesquisas".

Lula dedicou a primeira parte da reunião à crise e defendeu a apuração rigorosa dos fatos, mas reclamou que muitas denúncias são vazias. Segundo ministros, Lula disse que ficou chocado com alguns fatos e que algumas denúncias destruíram imagens de pessoas.

Haddad, que deve ficar com Educação, é do PT

Com Tarso, afinidade intelectual

BRASÍLIA. Convidado por Tarso Genro para substituí-lo à frente do MEC, o atual secretário-executivo da pasta, Fernando Haddad, estreou no governo Lula como assessor do Ministério do Planejamento, em 2003. Filiado ao PT, foi chefe de gabinete do secretário de Finanças da prefeitura de São Paulo, João Sayad, na gestão de Marta Suplicy.

O convite para virar o número dois no MEC, na reforma de janeiro de 2004, foi provocado pela afinidade intelectual com Tarso. Mesmo não sendo amigos, Haddad e Tarso trocavam correspondência sobre livros antes de Lula ser eleito.

Aos 42 anos, Haddad é formado em direito pela Universidade de São Paulo (USP), onde também fez mestrado em economia e doutorado em filosofia. É autor de quatro livros, entre eles "O Sistema Soviético" e "Em Defesa do Socialismo".

Segundo o MEC, Haddad é filiado ao PT desde 1983, mas nunca ocupou cargos no partido. Na USP, é professor licenciado de Teoria Política Contemporânea na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Sociais.

Como secretário-executivo, Haddad foi o idealizador do programa Universidade para Todos (ProUni), que concede bolsas para 112 mil estudantes pobres em universidades particulares, mediante isenções fiscais.

Se Haddad for confirmado como ministro, sua mulher, Ana Estela, doutora em odontologia e assessora do gabinete de Tarso, deixará o cargo e reassumirá sua função como professora da USP.

Um pesquisador com experiência executiva

Rezende já havia sido cogitado para pasta

O nome do físico Sergio Rezende é apontado como um dos mais bem aceitos entre a comunidade científica para ocupar a pasta de Ciência e Tecnologia desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Seu nome foi cogitado pela primeira vez em 2003 - quando Roberto Amaral acabou assumindo o ministério e ele foi nomeado presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), uma das principais agências de fomento do à inovação do MCT.

Quando Amaral deixou o governo, o nome de Rezende voltou a ser cogitado, mas optou-se por mantê-lo à frente da Finep e a pasta acabou sendo ocupada por Eduardo Campos.

Carioca, de 65 anos, Rezende é uma referência no Brasil e no exterior na área de magnetismo. Ele também é conhecido pela implantação do Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco, atualmente uma referência nacional na área. Ligado a Miguel Arraes, foi secretário estadual, em Pernambuco, de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, de 1995 a 1998. De janeiro de 2001 a janeiro de 2003 foi secretário do Patrimônio, Ciência e Cultura da cidade de Olinda.

- O apoio ao nome de Rezende já existia na época da formação do governo - lembrou o secretário-geral da Sociedade Brasileira de Física, Lívio Amaral. - Trata-se de um nome importante porque Rezende é um pesquisador da mais alta relevância e tem experiência executiva.