Título: ÁFRICA DO SUL : 6 MILHÕES DE PORTADORES DO HIV
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Fonte: O Globo, 13/07/2005, O Mundo/Ciencia e Vida, p. 34

Cálculos refeitos pelo governo fazem do país a maior vítima da epidemia no mundo

LONDRES. Um estudo feito pelo governo da África do Sul indica que pelo menos seis milhões de pessoas no país estão infectadas com o vírus HIV. O dado é ainda mais assustador que as estimativas divulgadas pelo Departamento de Saúde em maio - 4,5 milhões de contaminados - e faz do país a maior vítima da epidemia de Aids no mundo, superando a Índia, que tem 5,1 milhões de soropositivos.

As novas projeções foram feitas a partir de exames realizados em mulheres em gestação. O número de contaminados corresponde a cerca de 15% da população do país, que tem 40 milhões de habitantes.

O método de pesquisa, no entanto, foi criticado dentro do governo e por organismos intergovernamentais. O Unaids considerou o estudo infundado embora tenha reconhecido que metodologias diferentes geram resultados diferentes. Autoridades sul-africanas, inclusive o presidente Thabo Mbeki, também questionam a gravidade da epidemia de Aids, o que enfurece os ativistas que culpam a posição do governo pelo crescente número de mortes pela doença no país.

O estudo do Departamento de Saúde diz ainda que 29,5% das grávidas analisadas em todo o país são soropositivas, um aumento de 1,6% em relação ao ano passado. Na província de KwaZulu, a mais afetada pela epidemia, a prevalência do HIV entre as grávidas supera 40%, segundo o estudo.

Estatísticos descordam dos dados apresentados

O departamento disse que suas estimativas anteriores já usavam a prevalência do HIV na população de grávidas para traçar estimativas de infecção na população em geral e que esse tipo de estimativa é reconhecido.

Alguns estatísticos, no entanto, questionam os resultados divulgados pelas autoridades de saúde. O professor Rob Dorrington, do Centro de Ciências Atuariais, da Universidade da Cidade do Cabo, disse que as novas estimativas são elevadas demais e que as mensagens contraditórias do governo estão complicando as políticas públicas para o combate à doença.

- Não é de estranhar que o público esteja confuso quando o mesmo governo oferece estimativas que diferem entre 2 e 2,5 milhões. Esses dados precisam ser revistos de forma coerente pois estão muito exagerados. Isso dificulta o planejamento de ações eficazes - disse ele.