Título: DÓLAR DERRUBA PREÇO DO LEITE
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 13/07/2005, Economia, p. 25

Consumidores encontram o produto e seus derivados até 21,5% mais baratos

A baixa cotação do dólar - que ontem fechou a R$2,343 - está trazendo mais benefícios para o consumidor: leite e seus derivados estão nas prateleiras dos supermercados com preços até 21,5% mais baixos. Segundo analistas, o aumento das importações do produto traz impactos positivos na inflação, reforçando os índices baixos que já vêm sendo registrados nas últimas apurações.

Segundo Carlos Humberto Carvalho, presidente do Conselho Nacional da Indústria de Laticínios (Conil), o câmbio valorizado - o dólar já caiu 11,7% no ano em relação a o real - tornou os produtos importados mais atrativos. Estes, por sua vez, aumentaram a oferta do produto no mercado, baixando os preços do leite. Além disso, o tímido crescimento do consumo - de 2% ao ano - contribuiu para o atual quadro.

- Enquanto o consumo interno estagnou, a produção aumentou 9,6% em seis meses. Então, começa a sobrar leite. E muito - disse Carvalho.

No supermercado Princesa, que integra a Rede Economia, por exemplo, o queijo esférico Vitória caiu de R$14 em junho para R$10,98 (-21,57%). E as quedas não param por aí. No Mundial, o litro do leite Parmalat saía por R$1,86 mês passado e agora custa R$1,79 (-3,76%). Nas Sendas, a marca Elegê caiu de R$1,95 para 1,75 (-10,25%) e a Sarita, de R$1,69 para R$1,45 (14,2%). Ainda no Princesa, o queijo minas Camponato sai por R$11,98, uma queda de 20,13%.

- Como há uma superoferta de leite, podemos negociar com outras marcas. É o caso do leite Milenium, que começamos a vender, por R$1,09 na quarta e quinta-feiras. E até o dia 28, por R$1,19. Marcas similares eram vendidas a R$1,49 - disse João Márcio Castro, diretor do Princesa.

Deflação no setor ajuda a conter IPCA

Os consumidores já começam a notar a queda de preços. Caso de Ana Valéria Oliveira, que é dona de um restaurante no Centro. Todo mês, ela compra para sua empresa cerca de 40 litros de leite. Em sua casa, gasta três litros por semana, para completar a alimentação de sua filha Vanici, de 7 anos.

- Já notei que o leite está em queda. É que eu costumo comparar os preços antes de fazer as compras. Isso é ótimo porque tenho muito gasto com esses artigos.

Segundo João Gomes, economista do Instituto Fecomércio-RJ, a queda de preço do litro do leite vem sendo verificada desde maio. No período de 20 de maio a 22 de junho, o recuo médio foi de 0,55%, segundo o índice da cesta de compras calculado pela instituição. Na análise seguinte, queda de 1,02%. No período de 7 de junho a 7 de julho, caiu 0,85% - um fenômeno atípico para a época, já que no período mais frio há redução na produção (entressafra).

- Com o gado magro sem dar leite, a tendência é que vá para corte, reduzindo o preço da carne. Uma tendência positiva. No último trimestre, pode ser prejudicial: na entressafra de gado é possível que não tenha carne e os preços subam um pouco acima do esperado.

Gomes acrescenta que leite e derivados apresentaram peso significante no IPCA de junho, de 2,4970. Para se ter uma idéia, diz ele, o peso da carne, variável que preocupa os analistas na entressafra, é de 2,7890. O IPCA é o índice que determina o sistema de metas de inflação do Banco Central, e por tabela, a política de juros no país.

- O leite, sem dúvida, ajudou e ainda ajudará os índices a permanecerem em patamares reduzidos - afirma Gomes, que prevê, para julho o IPCA entre 0,25% e 0,30%.

Ainda que o leite acumule alta de 6% no ano, indicando uma recuperação no início do ano, contra 3,18% da inflação, os produtores começam a se mexer. Rodrigo Alvim, presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, conta que já começaram as negociações com o governo, para que sejam prorrogados os prazos de financiamento de linhas de crédito voltadas para o estoque. Mas, por enquanto, não há medidas de curto prazo em estudo pelo governo.

- Se isso não ocorrer, os produtores inundarão mais o mercado.

Arthur Voorsluys, diretor da Parmalat, diz que a oferta de leite lhe trouxe preço negociado com o produtor 10% menor em junho. Em julho, a previsão é de outra queda de 10%. Com isso, diz ele, produtos da marca que eram vendidos, há um mês, na faixa de R$1,45, hoje estão entre R$1 e R$1,09, em média.

- Os preços caem e o consumidor sai beneficiado.

Segundo a Rede Internacional de Comparação de Fazendas, o custo de produção de um litro de leite no Brasil é mais elevado, por exemplo, que na Argentina, de onde o país importa. Hoje sai de US$0,18 a US$0,20. Já na Argentina é de US$0,12 a US$0,15.

INCLUI QUADRO: SAIBA MAIS SOBRE O SETOR / VARIAÇÃO MÉDIA DOS PRODUTOS NOS SUPERMERCADOS / IMPORTADOS / DESTAQUES DAS PRATELEIRAS