Título: PT tem rombo de R$72 milhões apesar da contribuição de filiados
Autor: José Casado
Fonte: O Globo, 13/07/2005, O País, p. 4

Campanhas eleitorais de 2002 e 2004 podem ter provocado a dívida

BRASÍLIA. O Partido dos Trabalhadores está à beira da falência, apesar do aumento exponencial das contribuições que recebeu nos últimos anos de seus filiados e simpatizantes. O partido deve mais de R$72 milhões, segundo um levantamento contábil preliminar realizado na semana passada. É quase o dobro da soma das doações (R$39 milhões) de empresas e pessoas físicas recebidas na campanha presidencial de 2002, usadas para financiar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República.

Ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o partido declarou ter recebido R$21 milhões para o candidato a presidente e outros R$18 milhões na conta do Comitê Financeiro Nacional para Presidente.

Se essa dívida fosse partilhada entre os 840.100 filiados registrados no TSE, cada petista de carteirinha teria de desembolsar R$86 para saldá-la. Cada um dos 2,8 mil diretórios municipais teria de arrecadar, pelo menos, R$25 mil para cobrir o rombo.

Dívida do PT está sob auditoria

A dívida está sob auditoria interna. Sua dimensão, assim como a origem nebulosa, surpreendeu os interventores escolhidos pelos integrantes da executiva nacional no último fim de semana, em São Paulo. Parlamentares supõem que o buraco nas finanças do PT tenha sido cavado a partir de gastos exorbitantes em algumas campanhas eleitorais, em 2002 e no ano passado - determinados pelo grupo que comandou o partido até a semana passada, liderado pelo deputado federal José Dirceu (PT-SP), o ex-presidente do partido José Genoino e o ex-tesoureiro Delúbio Soares.

A confusão financeira levou os três ex-dirigentes do PT a adotar uma medida emergencial: na última semana de maio, fizeram o diretório nacional aprovar mais uma "campanha nacional de arrecadação de finanças, junto a pessoas físicas e jurídicas".

O lançamento foi decidido em reunião da direção partidária realizada entre os dias 21 e 22 de maio, uma semana depois da revelação, pela revista "Veja", do caso de corrupção na Empresa Brasileira de Correios. Duas semanas mais tarde, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciou Dirceu, Genoino e Delúbio como gestores de uma folha de pagamento de mesadas na Câmara dos Deputados. O intermediário seria Marcos Valério Fernandes de Souza, sócio das agências de publicidade SMP&B e DNA, e avalista de empréstimos milionários tomados pelo PT.

Arrecadação cresceu 7 vezes

No início do ano, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares chegou a estimar em R$6,8 milhões a dívida da campanha eleitoral assumida pelo PT na eleição do ano passado em cinco capitais (Rio, Goiânia, Porto Alegre, São Paulo e Cuiabá).

Sabe-se que a arrecadação do partido na cobrança de dízimo sobre os ganhos dos filiados cresceu sete vezes, desde que Lula assumiu o governo, em janeiro de 2003, ultrapassando R$3 milhões anuais.

O dízimo cobrado pelo PT varia de 2% a 10% sobre os ganhos de seus filiados que ocupam cargos governamentais de confiança. Pelas contas do ex-presidente José Genoino, o PT nomeou 5,6 mil pessoas no quadro de 19 mil cargos de confiança de que dispõe o governo federal. Eles ocuparam praticamente todas as assessorias da administração direta nas quais os salários são superiores a R$7 mil mensais.

Os parlamentares têm um desconto obrigatório que varia de 6% a 20% sobre os seus ganhos. Na direção do PT não se comenta sobre finanças até a conclusão da auditoria interna. Mas o novo presidente do partido, Tarso Genro, que acumula temporariamente também o posto de ministro da Educação, já anunciou que os ex-dirigentes deverão "prestar contas" ao partido.