Título: MERCADO ESTRANHA INVESTIMENTO NA EMPRESA
Autor: Flávia Oliveira/Mirelle de França
Fonte: O Globo, 14/07/2005, O País, p. 10

Receita das 20 principais firmas em 2003 foi de R$2,5 milhões

O desenvolvimento de games para telefone celular no Brasil ainda vive seus estágios iniciais. Apesar da explosão da telefonia móvel no país, ainda são muito poucos os casos de empresas recebendo investimentos substanciais para a criação de jogos que rodem em celulares. Por isso causou estranheza, no mercado, a notícia de que a produtora Gamecorp, que tem entre seus sócios Fábio Luís Lula da Silva, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu da Telemar um aporte de R$5 milhões, que seriam aplicados na criação de games para a operadora Oi, seu braço de telefonia móvel. Para um analista do setor, esse investimento não se justificaria.

Ele diz que as vendas das empresas mostram o comportamento desse mercado. Em 2003, a receita conjunta das 20 principais empresas do ramo ficou em cerca de R$2,5 milhões. A empresa de maior sucesso não faturou mais que R$1,5 milhão. Portanto, diz a fonte, ninguém "em sã consciência" investiria R$5 milhões numa produtora novata como a Gamecorp - que, por sinal, sequer tem site na internet, algo básico para uma empresa de tecnologia.

Segundo a Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames), o faturamento total do setor foi de R$18 milhões em 2004, e são 55 produtoras de videogames no país. Das que criam jogos para consumidores domésticos, 63% se concentram em games para computadores pessoais e 22% para celulares.

Empresas precisam de muito tempo para se valorizar

De acordo com especialistas e empresários consultados pelo GLOBO, é difícil fazer sucesso no mercado de jogos para telefonia celular. Vale citar o exemplo da MeanTime, pertencente ao Porto Digital, pólo de alta tecnologia de Recife: com dois anos de atuação, um portfólio de 40 jogos desenvolvidos, forte presença no mercado nacional e exportações para mais de 30 países, somente agora a MeanTime chegou a R$10 milhões de valor de mercado.

- Um bom investimento ainda é relativamente difícil para uma empresa deste ramo, principalmente no estágio inicial, quando ainda não firmou a marca no mercado - diz Scylla Costa, diretor de operações da produtora Jynx, de Recife, e vice-presidente da Abragames. - Sabemos de empresas que já tiveram aportes acima do milhão. Algumas chegaram a R$2 milhões, mas isso depois de muitos anos no mercado. No caso da Gamecorp, a Abragames nem tinha conhecimento de sua existência.

Desenvolver game para celular não é tão complexo quanto criar jogo para computador (PC). A Abragames diz que com R$50 mil e dois profissionais é possível lançar um produto.