Título: FGV: INDÚSTRIA DESAQUECE E ADMITE NOVOS CORTES
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 14/07/2005, Economia, p. 27

Estoques altos e queda de vendas levam empresas a revisar previsões. Economista teme que juro cause estagnação

SÃO PAULO. Pesquisa divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou nova desaceleração da indústria no segundo trimestre, repetindo o fraco desempenho do início do ano. Desta vez, a queda de vendas e o aumento dos estoques levaram as empresas a rever para baixo suas previsões para os próximos meses e a acenar com novas demissões.

Pela pesquisa, na verdade a prévia da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação de julho, a situação atual dos negócios foi considerada "fraca" por 33% dos entrevistados e "boa" por 16% - contra 15% e 18%, respectivamente, na sondagem de abril. O saldo negativo de 17 pontos entre as duas respostas foi o pior desde julho de 2003 (-36), auge da recessão causada no início do governo Lula pelo forte arrocho monetário.

A FGV compilou as respostas de 462 empresas no país. Destas, 29% reclamaram da queda na demanda agora em julho, índice que era de 10% no mesmo mês de 2004, 14% em janeiro deste ano e 15% em abril. Já as que disseram que as vendas não sofreram impacto neste mês foram 8%. Como consequência, cresceu de 12% para 19% o índice das empresas que trabalham hoje com volume "excessivo de estoque". Para 1%, esse nível seria insuficiente.

FGV evita termo recessão. Reajustes perdem força

Responsável pela pesquisa, o economista Aloisio Campelo evita usar o termo recessão para se referir à atividade da indústria, mas alerta que a manutenção da atual taxa de juros levará o setor para "o terreno do crescimento negativo".

- Estamos diante de um quadro de desaquecimento que beira a estagnação produtiva - afirmou Campelo.

Ele não vê contradição entre a sondagem e a pesquisa de produção física divulgada pelo IBGE, que mostrou crescimento em maio. Segundo ele, o dado do IBGE mostrava a aposta feita anteriormente pelos empresários de uma recuperação mais rápida da economia ainda no primeiro semestre - o que acabou não acontecendo, provocando o aumento dos estoques.

Escaldados pelas previsões passadas, os empresários mostram-se mais cautelosos em relação ao futuro. Para 19%, a demanda vai diminuir mais entre julho e setembro, enquanto 43% apostam em ampliação. Para efeito de comparação, as apostas para o período anterior (abril a junho) haviam sido de 49% de alta e 11% de queda das vendas. O pessimismo é o mesmo quando se considera a situação dos negócios nos próximos seis meses. A opção pior subiu de 11% para 20% das respostas.

Na pergunta referente ao emprego, 20% dos empresários se mostraram dispostos a reduzir seu quadro de pessoal nos próximos três meses, contra 16% que ainda podem abrir novos postos de trabalho. O saldo entre as duas respostas foi de quatro pontos negativos. De acordo com a FGV, a última vez em que houve saldo negativo neste quesito foi em abril de 2002 (menos oito pontos).

CNA: exportação do agronegócio caiu em junho

Em função da fraca demanda e da elevação do nível de estoques, os empresários não vêem espaço para novos reajustes de preços no próximo trimestre. A prévia da sondagem da FGV mostra que a parcela das companhias que vão aumentar seus preços caiu de 41%, na pesquisa feita em abril, para 24% agora em julho. Já na ponta de quem pretende cortar valores, o índice foi de 5% para 23% no mesmo período.

Segundo o economista Aloisio Campelo, coordenador da sondagem, esse resultado só encontra paralelo com o registrado em julho de 2003, quando 16% falavam em aumentar seus preços e 21% responderam que iriam reduzi-los para recuperar mercado.

Enquanto a indústria espera redução no ritmo para o próximo trimestre, o agronegócio perde força. As exportações do setor, que formam a linha de frente das vendas externas brasileiras nos últimos anos, estão perdendo fôlego devido à crise da soja. Segundo a Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA), em junho deste ano, o agronegócio exportou US$4,2 bilhões, frente os US$4,4 bilhões registrados em igual período de 2004.

- Houve aumento das exportações de carnes, café, açúcar e álcool, mas isso não foi suficiente para compensar a queda da soja, carro-chefe das exportações - explicou o chefe do Departamento de Assuntos Internacionais e de Comércio Exterior da CNA, Antônio Donizeti Beraldo.

INCLUI QUADRO: O SETOR INDUSTRIAL MAIS PESSIMISTA / NÍVEL DE DEMANDA / PREVISÃO PARA EMPREGO