Título: BRASIL ANTECIPA PAGAMENTO DE US$ 5,1 BI AO FMI
Autor: Enio Vieira
Fonte: O Globo, 14/07/2005, Economia, p. 28

Operação será feita este mês e resultará numa economia de US$82 milhões para as reservas internacionais do país

BRASÍLIA. O governo decidiu aproveitar as condições favoráveis do mercado internacional - com farto ingresso de recursos no Brasil - e anunciou ontem que antecipará o pagamento de US$5,120 bilhões da dívida junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O valor corresponde a parcelas previstas de US$2,2 bilhões para setembro próximo, US$1,7 bilhão para dezembro e US$1,1 bilhão para março de 2006, além de US$120 milhões em juros. Segundo o Banco Central (BC), a operação será realizada no dia 25 deste mês e resultará numa economia de US$82 milhões para as reservas internacionais.

O último pagamento antecipado ao FMI ocorreu no primeiro semestre de 2000, com o objetivo de mostrar boas condições de financiamento externo e melhorar a percepção que os investidores tinham de risco do país. A operação atual mostra uma situação diferente da de 2003, quando o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, diante da recessão e da escassez na entrada de recursos no país, negociou e obteve alongamento de vencimentos de empréstimos junto ao Fundo. Assinado no fim do governo Fernando Henrique, em 2002, o último pacote de socorro ao Brasil somou US$30 bilhões e foi renovado pelo governo atual. Com o pagamento antecipado, restarão US$15,750 bilhões de recursos do FMI nas reservas.

As parcelas a serem antecipadas são da linha de crédito Supplement Reserve Facility (SRF) do FMI, que tem perfil de prazo mais curto e juros altos, de 8,9% ao ano. A partir de agora, o Brasil terá apenas dinheiro da Credit Tranche (CT), com taxas de 4% ao ano. Quando tomam um empréstimo no FMI, os países só podem usar os recursos como um seguro para investidores estrangeiros e pagamento de importações. Para ter este respaldo, os governos nacionais mantêm o dinheiro do Fundo parado nas reservas e pagam juros por esta proteção.

Reservas líquidas devem fechar o ano em US$41,8 bi

Com o pagamento anunciado ontem, o BC estima que as reservas internacionais brutas (incluído o dinheiro do FMI) encerrem o ano com US$56,6 bilhões, frente aos US$57,7 bilhões previstos anteriormente. A diferença é justamente o US$1,1 bilhão que seria pago em março de 2006 e será quitado agora. As reservas líquidas (descontada a parte do Fundo) podem ser usadas livremente pelo governo e deverão fechar o ano em US$41,8 bilhões, o maior nível desde 1998, antes da crise da desvalorização do real.

A avaliação do BC é que o mercado de câmbio mantém condições excepcionais de oferta de moeda, o que favorece o acúmulo de dólares pelo governo. Além das captações externas, o BC já comprou no mercado local este ano US$10,219 bilhões para as reservas. Em 2004, as aquisições somaram US$5,274 bilhões e, em 2003, US$1,591 bilhão. Foi um movimento contrário ao da crise de 2002, quando o BC vendeu US$9,113 bilhões das reservas para, em vão, tentar estabilizar a cotação do câmbio e atender à demanda de mercado.

Uma maneira de economizar está sendo a compra de dólares no mercado pelo Tesouro Nacional, por meio do Banco do Brasil. No fim de junho, o BC anunciou que o Tesouro adquirirá US$4,963 bilhões para o pagamento de dívida externa no segundo semestre de 2005.