Título: Universal também voou com 11 caixas de dinheiro
Autor: Sueli Cotta
Fonte: O Globo, 14/07/2005, O País, p. 9

Pastores da seita, deputado e vereador passaram com os volumes pelo aeroporto de BH sem serem incomodados

BELO HORIZONTE. Um dia antes da apreensão das sete malas da Igreja Universal com mais de R$10 milhões no aeroporto de Brasília, um carregamento semelhante passou pelo aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, transportado por dois pastores da Universal, o deputado estadual de Minas George Hilton dos Santos (PFL) e o vereador de Belo Horizonte Carlos Henrique Alves da Silva (PL). Eles passaram tranqüilamente pela Polícia Federal com 11 caixas de papelão contendo dinheiro em espécie e cheques.

O deputado estadual disse à PF que não foi a primeira vez: ele afirmou ter transportado pelo menos quatro vezes dinheiro vivo em aviões fretados. Pela versão da Universal, o dinheiro foi arrecadado nos cultos da seita no Triângulo Mineiro e no Sul de Minas. O volume estimado pelo parlamentar nesta última viagem foi de R$600 mil, mas o policial de plantão no aeroporto da Pampulha nem mesmo checou o valor transportado.

Os políticos-pastores só foram interceptados por policiais federais no aeroporto porque estes foram avisados pelo Departamento de Aviação Civil (DAC). Os dois pastores apresentaram uma procuração da Igreja Universal autorizando o transporte do dinheiro e o delegado da Polícia Federal Domingos dos Reis entendeu que não havia motivos para detê-los. Recomendou apenas que se registrasse o fato no livro de ocorrências da polícia.

De acordo com a assessoria de imprensa da PF, o dinheiro não foi apreendido porque os políticos apresentaram os documentos, assinados por dirigentes da seita no Sul de Minas, atestando a origem dos recursos. O deputado João Batista (PFL-SP), preso em Brasília, também mostrou documento semelhante. A diferença, segundo a PF, é que a certidão era assinada por ele próprio.

Caso será investigado junto com as malas de Brasília

A PF informou que o registro de ocorrência em Belo Horizonte será enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) juntamente com o termo de declaração prestado por João Batista e a documentação relativa aos R$10 milhões apreendidos em Brasília.

O delegado Domingos dos Reis entende que agiu corretamente e disse que não é papel da polícia ficar contando quanto às pessoas tem no bolso. A operação, para ele, não é irregular.

- Eles vieram de um vôo que decolou de Poços de Caldas com destino à Belo Horizonte. Mas o deputado disse que isso era comum, tanto que ele já transportou dinheiro dessa forma por pelo menos quatro vezes - disse Reis.

A notícia causou constrangimento no PFL, partido ao qual o deputado se filiou há pouco mais de dois meses. Os membros do diretório estadual vão se reunir amanhã para avaliar as semelhanças deste caso com o de João Batista, que foi expulso do PFL.

O vereador Carlos Henrique também terá que responder à executiva estadual do PL, que formou uma comissão para apurar o caso.

Legenda da foto: OS R$10,2 milhões apreendidos pela Polícia Federal em Brasília