Título: Crises cambiais e reajuste de tarifas pressionam inflação do Mercosul
Autor: Luciana Rodrigues e Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 15/07/2005, Economia, p. 22

Brasil teve o segundo maior índice (60,22% desde 99), só atrás do Uruguai

RIO e BUENOS AIRES. Não foi só no Brasil que câmbio e tarifas públicas se tornaram vilões da inflação neste início de milênio. Nos nossos parceiros do Mercosul, preços influenciados pelo dólar e itens como energia e comunicações também dispararam. Mas para os brasileiros, o estrago das crises foi dos maiores. Entre meados de 1999 e 2004, a inflação no Brasil subiu 60,22%, a segunda maior alta, só atrás do Uruguai: 66,32%.

Em comum, os países do Mercosul têm o histórico recente de mudanças abruptas de regimes cambiais ¿ em 1999 no Brasil e em 2002 em Argentina, Uruguai e Paraguai ¿ e de privatização dos serviços públicos. O efeito câmbio fica nítido nos índices. Na Argentina, nos anos de paridade entre peso e dólar, houve 22 meses de deflação (queda de preços) entre janeiro de 1999 e dezembro de 2001. E o país bateu o recorde mensal de inflação no bloco em abril de 2002 (pós-moratória), com 10,7%.

Comunicações subiram 256% no Paraguai desde 2000

As tarifas também subiram com força. No Paraguai, as comunicações tiveram alta de 256% desde 2000. Mas, na Argentina, houve o congelamento. Segundo analistas, isso explica por que o país registrou inflação inferior a de Brasil e Uruguai.

¿ O congelamento de tarifas foi chave para evitar alta maior da inflação. De todas as desvalorizações sofridas pela Argentina, a de 2002 teve o menor repasse cambial ¿ diz o analista argentino Roberto Frenkel, do Centro de Estudos de Estado e Sociedade (Cedes).

¿ Não tínhamos muitas opções. Os salários estavam congelados ¿ diz Manuel Calderón, da consultoria Abeceb.com.

Para Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, o congelamento das tarifas argentinas criou uma distorção que impede comparações com outros países.

¿ E, mesmo com a tarifa congelada, a inflação da Argentina está em 9% este ano, contra 3,16% no Brasil.

Ele faz uma ressalva sobre os bons números do Chile:

¿ É um país pequeno, do tamanho do Paraná. Fica mais fácil administrar a economia.