Título: NA CPI, GOVERNISTAS IMPEDEM QUEBRA DE SIGILO DE PETISTAS
Autor: Rodrigo Rangel, Demétrio weber, Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 15/07/2005, O País, p. 3

Sessão foi marcada por xingamentos e empurrões

BRASÍLIA. A CPI dos Correios voltou a virar palco de guerra entre oposição e governo. E mais uma vez os governistas conseguiram impedir a votação da quebra do sigilo bancário, telefônico e fiscal do PT, de ex-dirigentes do partido e do deputado José Dirceu (PT-SP). Numa sessão marcada por gritos, xingamentos, empurrões e provocações, os governistas derrotaram por 15 votos a dez o requerimento da oposição que permitiria a votação da quebra de sigilo.

O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), decidiu, no fim, aceitar apenas os ofícios encaminhados por Delúbio Soares, Sílvio Pereira, José Genoino, Dirceu e PT, assinado pelo novo presidente Tarso Genro, abrindo mão do sigilo. A oposição questionou o texto do ofício de Dirceu, que não mencionava quebra de sigilo, mas apenas transferência das informações. Delcídio disse que um novo texto tinha sido providenciado.

O ex-secretário do PT Sílvio Pereira vai depor na CPI na terça-feira e, na quarta, será a vez do ex-tesoureiro Delúbio Soares. Antes da confusão, foram aprovados por consenso outros 48 requerimentos de convocação e quebra de sigilo de outras pessoas e empresas ligadas ao publicitário Marcos Valério e aos Correios. Os governistas só aceitaram votar a quebra do sigilo das contas do PT nos bancos Rural, do Brasil e BMG, nos últimos cinco anos, quando foram incluídos todos os outros partidos.

Mas o que botou fogo na comissão foi a discussão sobre a necessidade de formalizar, por votação, a quebra de sigilo dos petistas. Depois da sessão secreta em que se acordou a votação em bloco dos requerimentos de consenso, o PFL do deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (BA) apresentou requerimento de preferência para votação do sigilo. O deputado temia que os governistas esvaziassem a comissão e evitassem a votação. Quando Delcídio anunciou que iniciaria os encaminhamentos ao requerimento do PFL, começaram as provocações:

¿ Vai começar a guerra de egos! ¿ reclamou o senador Ney Suassuna(PMDB-PB).

¿ De égua não! ¿ alfinetou Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que contestava a legalidade dos ofícios encaminhados pelo senador Sibá Machado (PT-AC).

Delcídio pediu moderação, mas não adiantou.

¿ Quebrar esses sigilos não é uma vergonha. Vergonha é não investigar o dinheiro na cueca do mula do PT ¿ disse Faria de Sá.

¿ Que cada um mostre a sua cara e deixe claro que é contra a quebra do sigilo. Eu quero jogo às claras, sem armação. Querem evitar o constrangimento de votar contra a quebra do sigilo e convocação do Genoino, do Gushiken. Por que se escondem? Quem vota contra está na operação abafa! ¿ disse Antonio Carlos Magalhães Neto.

Com a derrota do requerimento pelos governistas, passou-se à votação dos requerimentos em que havia consenso. O pefelista baiano voltou à carga e tentou começar a votar um por um os requerimentos de quebra de sigilo. Irritado com a articulação, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) protocolou na Mesa um outro requerimento de inversão de pauta para pôr em votação a quebra de sigilo do tucano Pimenta da Veiga, que recebeu R$150 mil de Marcos Valério, e outros que tratavam de contratos do publicitário com prefeituras do PSDB.

¿ Se há uma requisição para o BC e outros órgãos quebrarem o sigilo, para que votar? Só para ter uma manchete: ¿CPI quebra sigilo de Zé Dirceu¿? Ou ¿Governo barra investigação¿? Não é o caminho que eu queria, mas se o jogo da oposição é o da maluquice, vamos entrar na maluquice ¿ disse Cardozo.

Nesse momento transferiu-se para a CPI a discussão sobre os ataques feitos pelo senador Arthur Virgilio (PSDB-AM) ao presidente Lula. Com os ânimos exaltados, Arnaldo Faria de Sá, com o ofício encaminhado por José Dirceu nas mãos, disse que aquele documento não tinha qualquer validade, pois não mencionava quebra de sigilo, apenas transferência de informações. Sibá partiu para cima dele, arrancando os documentos de suas mãos.

¿ Não vem desmerecer o documento não! Não sou moleque! ¿ gritou Sibá, com os lábios brancos de raiva e brandindo o dedo na direção do oponente.

¿ Não vou abrir para você não! Aqui não tem Abin não. Não sou da Abin, seu enganador! ¿ devolveu Arnaldo.

¿ Nem eu, está pensando que eu sou candidato a palhaço? ¿ continuou Sibá, dando uma barrigada em Arnaldo e sendo afastado por funcionários da CPI.

No meio da confusão a sessão foi encerrada. Delcídio e o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) tiveram de transferir para hoje a audiência que teriam com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para agilizar o envio dos documentos.