Título: Polícia de Minas acha documentos de empresa de Valério queimados
Autor: Luiz Fernando Rocha e Itamar Mayrink
Fonte: O Globo, 15/07/2005, O País, p. 4

Papéis estavam na casa de carcereiro acusado de homicídio em BH

BELO HORIZONTE (MG). Uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público de Minas Gerais levou à apreensão de 12 caixas com notas fiscais da agência DNA Propaganda, uma das empresas de Marcos Valério de Souza. Parte das notas estava queimada. Os documentos estavam no quintal da casa do carcereiro aposentado da Polícia Civil de Minas Gerais Marco Túlio Prata, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte. No local, os policiais encontraram grande quantidade de papéis incinerados em dois tambores de ferro. Entre as cinzas, os policiais acharam pedaços de papel com o timbre da agência DNA Propaganda.

O carcereiro aposentado é irmão do contador Marco Aurélio Prata, um dos donos da Prata e Castro Auditores e Consultores Associados S/C Ltda, uma das empresas que faz a contabilidade das agências SMP&B e da DNA Propaganda. A Prata e Castro sofreu uma devassa no dia 23 de junho, quando uma equipe de cinco policiais federais comandada pelo delegado Cláudio Ribeiro Santana, do Distrito Federal, apreendeu quatro grandes caixas com documentos e pelo menos 20 placas de memória de computadores.

Promotor: extravio foi premeditado

Na época, o conteúdo das caixas e dos computadores não foi revelado sob a alegação que o mandado determinava segredo de Justiça. Ontem, o promotor Leonardo Barbabella informou que nas investigações sobre o carcereiro aposentado foram feitas gravações de telefonemas mostrando que houve a intenção de extraviar os documentos da DNA.

Segundo Barbabella, após a devassa no escritório de contabilidade em Belo Horizonte, no dia 23 de junho, houve a quebra de sigilo telefônico. Nas escutas autorizadas pela Justiça, detectou-se que essa documentação estaria sendo extraviada para impedir o acesso aos órgãos que fazem as investigações do mensalão.

O promotor informou que se trata de documentação fiscal da DNA com indícios de serem notas fiscais paralelas.

¿ A documentação fiscal faz menção a fornecedores de serviços para a DNA Propaganda, que por sua vez os repassa para os órgãos públicos ¿ explicou o promotor.

O Ministério Público Federal de Minas já requisitou os documentos apreendidos e ontem mesmo uma comissão da CPI dos Correios viajou para Belo Horizonte com o objetivo de acompanhar as investigações.

Segundo a Corregedoria de Polícia, a ação foi desencadeada em cumprimento a dois mandados expedidos pela juíza Electra Benevides, do 2º Tribunal do Júri de Minas. Um dos mandados determinava a prisão de Marco Túlio por homicídio e o outro, a busca e apreensão de armas. Mas, segundo o promotor Barbabella, a operação policial foi realizada também com o objetivo de recolher os documentos.

Marco Túlio é acusado de um homicídio em 6 de junho do ano passado. O filho dele, Vinício Prata Neto, teria reagido a uma tentativa de assalto e trocado tiros com o assaltante. Ambos foram baleados e atendidos no Pronto-Socorro do Hospital João 23, em Belo Horizonte. Quando soube que o agressor do filho estava no mesmo hospital, o ex-policial teria invadido a enfermaria e matado o suposto assaltante a tiros. Uma semana depois ele se apresentou à polícia, confessou o crime e foi liberado.

Acusado tinha arsenal em casa

Segundo o corregedor-chefe da Polícia Civil, Nelson Garófalo, foi encontrado com ele um arsenal: 17 armas de diversos calibres, uma carabina com mira telescópica, uma pistola semi-automática (de uso exclusivo das polícias) com numeração raspada, munição, dez granadas e bombas de fabricação caseira.

O procurador de Justiça André Ubaldino foi quem encontrou as caixas com documentos da DNA. Ele não quis revelar os nomes que constavam nas notas fiscais:

¿ Abri uma das caixas e quando vi a procedência das notas fiscais, mandei que as caixas fossem lacradas e trazidas para a Corregedoria.

O advogado da DNA Ildeu da Cunha Pereira disse que ficou sabendo da apreensão pela imprensa:

¿ Até sermos notificados, não vamos tomar nenhuma atitude. Mandei um de nossos advogados acompanhar o flagrante.