Título: PETISTAS NA MIRA DAS INVESTIGAÇÕES
Autor: Bernardo de la Peña e Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 15/07/2005, O País, p. 12

Assessores de parlamentares estiveram na agência do Rural onde Valério tem conta

BRASÍLIA. O líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA), e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), entraram ontem na mira das investigações sobre o suposto esquema de pagamento de mesada de R$30 mil a parlamentares da base aliada. Uma assessora do líder petista, a secretária do ex-presidente da Câmara e sua mulher fazem parte da lista de pessoas que estiveram na agência do Banco Rural em Brasília.

As agências de publicidade SMP&B e DNA Propaganda, do publicitário mineiro Marcos Valério, acusado de ser o operador do esquema, têm conta no banco, de onde foram sacados em dinheiro aproximadamente R$21 milhões de acordo com relatório do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf). O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), defendeu que o assunto seja investigado na CPI:

¿ Até para que aqueles que tiverem respostas saiam do foco das investigações.

Outros seis parlamentares petistas tiveram assessores visitando a agência. Entretanto, nos dias das visitas de apenas dois assessores, há registro no relatório de saques, que trata de retiradas apenas acima de R$100 mil. Servidora do gabinete de Paulo Rocha, Anita Leocadia Pereira da Costa, segundo a lista de freqüência do prédio, esteve na sala 918 do edifício comercial onde funciona o banco nos dias 18 de junho e 19 de dezembro de 2003. Na mesma data de sua segunda ida ao prédio, foram sacados da conta da SMP&B R$120 mil.

¿ O que a CPI está fazendo é uma grande irresponsabilidade. Eles estão fazendo uma loucura, relacionando a lista de freqüentadores do prédio aos saques feitos no Rural ¿ protestou Paulo Rocha.

A mulher de João Paulo Cunha, Márcia Regina Milanese, e sua secretária, Silvana Japiassu, estiveram no prédio no dia 4 de setembro de 2003 e nos dias 2 e 16 de abril de 2004, respectivamente. Nestes três dias, no entanto, a lista do Coaf não registra saques.

Os outros assessores que foram ao prédio do Rural são Maria Aparecida da Silva, que trabalha para o deputado Devanir Ribeiro (SP); Francisco da Silva Neiva e Raimundo Ferreira da Silva, do gabinete do deputado Paulo Delgado (MG); Geralda Magela Rodrigues que trabalha com o deputado Sigmaringa Seixas (DF); Jair dos Santos do gabinete do deputado Vicentinho (SP); Luiz Carlos da Silva, funcionário do deputado Wasny de Roure (DF), e Bruno Silva Nascimento, funcionário do gabinete de Zezéu Ribeiro.

¿Você passa em frente a um prédio e vira suspeito¿

No dia 29 de março de 2004, quando o assessor de Delgado esteve na agência, foi feito um saque na conta da SMP&B de R$200 mil. Delgado explicou que o funcionário é vice-presidente do PT do Distrito Federal e lhe informou que foi à agência tratar de um assunto pessoal. No dia 25 de setembro de 2003, também foi feito um saque na conta da mesma agência no valor de R$300 mil. A data coincide com uma das visitas de Jair de Souza, assessor de Vicentinho, ao prédio do Rural.

Paulo Rocha explicou que a funcionária do seu gabinete esteve no prédio uma vez para ir ao Laboratório Neurológico Queops. Embora exista o registro, Rocha negou que ela tenha ido outra vez ao local. João Paulo explicou que sua mulher e sua secretária estiveram na agência para fazer o pagamento da mensalidade da assinatura de TV a cabo de sua casa em Osasco (SP).

¿ Não tenho explicação para dar. Isso é um absurdo. Não se pode mais andar na rua, você passa em frente a um prédio e vira suspeito. Foi uma funcionária que foi lá sacar um cheque de R$400 que recebeu por um serviço que fez no fim de semana¿ desabafou Sigmaringa Seixas, apresentando cópia de documento.