Título: LULA ENCERRA VISITA À FRANÇA SEM FALAR DA CRISE
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 16/07/2005, O País, p. 13

'Os problemas do Brasil tratarei com muito prazer quando chegar ao Brasil', limitou-se a dizer

PARIS. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou ontem três dias de visita oficial à França agradecendo as homenagens que o país lhe prestou, mas recusando-se a falar de crise política. Os dois presidentes - Lula e Jacques Chirac, da França - foram perguntados por jornalistas sobre os problemas políticos que ambos enfrentam. Chirac amarga um dos piores índices de popularidade da história recente do país.

O francês foi o primeiro a cortar o assunto. Respondeu até por Lula:

- Vejo que você estava particularmente interessada pelas relações entre Brasil e França. A sua competência me mobiliza a dizer: eu nunca tenho o hábito, e acho que é o mesmo com o presidente Lula, de comentar problemas de política interna durante reuniões internacionais.

Lula hesita em responder

Houve um momento de hesitação sobre se Lula responderia. O presidente, então, disse que tratará com prazer dos problemas do Brasil quando voltar ao país:

- Eu penso que o presidente Chirac tem razão. Os três dias que passamos aqui foram demasiadamente fortes para que vocês tenham dezenas de perguntas sobre a relação Brasil e França. E os problemas internos da França, quando eu for embora, o presidente Chirac trata. E os problemas do Brasil, tratarei com muito prazer quando chegar ao Brasil.

Ninguém, nem mesmo as organizações não-governamentais, que tradicionalmente são críticas, tocaram no assunto da crise. Ao contrário: todo esforço foi feito para poupar Lula.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, falou em êxito e na "consagração de Lula como líder internacional". Como disse Henri Rouille Dorfeil, presidente da Federação Francesa de ONGs, que participou, junto com o presidente, de um foro da sociedade civil:

- Lula é popular. No campo internacional, suas iniciativas foram apreciadas. Ele é único no seu gênero. Não devemos tomar posição com base em informações que não conhecemos. Não somos eleitores brasileiros, nem juízes da situação. No fundo (a crise) é um problema de Lula e do PT com os eleitores.

Lula e Chirac querem taxar passagens aéreas

Dinheiro é para financiar desenvolvimento

PARIS.Brasil e França continuam divergindo sobre os subsídios agrícolas mas, numa declaração conjunta, os presidentes Lula e Jacques Chirac disseram que vão "redobrar esforços" para criar mecanismos internacionais inovadores para financiar o desenvolvimento dos países. Eles querem criar até 2006 uma contribuição nos bilhetes de avião, convencendo um grupo de países a criarem uma taxa sobre passagens aéreas que permitam coletar dinheiro para luta contra a Aids e outras epidemias.

Esta taxa, "de um montante pequeno", seria descontada em aeroportos dos países que concordem em participar. Poderá ser estabelecido um percentual diferente para bilhetes da classe econômica e da executiva, assim como entre países ricos e em desenvolvimento.

Sobre os subsídios, Lula chegou a fazer uma dura cobrança aos europeus, num discurso na Universidade da Sorbonne. Chirac, entretanto, disse na coletiva conjunta com Lula, que a França e a União Européia (UE) já cederam no que tinham que ceder.

Durante a visita, o Brasil comprou doze caças Mirage 2000 usados, que pertencem às Forças Armadas francesas. O valor do contrato é de 60 milhões de euros, segundo o jornal "Libération". Segundo o comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos da Silva Bueno, ainda não foi acertado um valor para o contrato.

- Isso depende de cálculos de custos, como equipamentos e treinamento de pilotos e técnicos - disse, afirmando que o Brasil vai receber no início de 2006 quatro dos 12 caças.

Legenda da foto: LULA CUMPRIMENTA o primeiro-ministro Dominique de Villepin