Título: PF INVESTIGA ESQUEMA DE CORRUPÇÃO NO CEARÁ
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 16/07/2005, O País, p. 12

Policiais especulam que José Adalberto pode fazer parte de um grupo que age no estado

BRASÍLIA. Uma semana após ter flagrado o assessor petista José Adalberto Vieira Silva com US$100 mil escondidos sob a cueca tentando embarcar de São Paulo para Fortaleza (CE), a Polícia Federal tem como principal linha de investigação no caso a hipótese de que José Adalberto fizesse parte de um esquema de corrupção envolvendo o deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão do ex-presidente do PT José Genoino.

Inicialmente, a PF considerava possível que José Adalberto tivesse cometido irregularidades dentro de um esquema pessoal de enriquecimento ilícito. Mas as investigações ao longo da semana indicam que o agora ex-assessor do deputado José Nobre Guimarães pode ser uma peça dentro de um esquema maior.

Nesse sentido, os US$100 mil sob a cueca e outros R$200 mil que eram transportados numa valise poderiam fazer parte de uma "liberação" de recursos, termo usado na polícia para indicar o pagamento a alguém que cumpriu uma tarefa. Dentro dessa linha de investigação, não está claro se o dinheiro seria para remunerar um serviço ainda por ser prestado ou, diferente disso, já concluído.

José Adalberto era dirigente do PT no Ceará

Além de assessorar o deputado estadual Jorge Guimarães na Assembléia Legislativa, José Adalberto era dirigente do PT no Ceará, cargo do qual também foi afastado. Na sexta-feira, quando foi detido no Aeroporto de Congonhas, o deputado estadual também estava na cidade participando de encontro no diretório nacional do PT.

Em suas primeiras declarações à imprensa, o deputado disse não saber que o assessor estava na cidade. A PF, porém, levanta indícios de que isso não seria verdade. Ou seja, de que o deputado teria pleno conhecimento da presença do assessor em São Paulo. Adalberto disse inicialmente à polícia que o dinheiro era originário da venda de verduras em São Paulo. Depois, afirmou que o dono do dinheiro seria um advogado e comerciante de Aracati (CE) chamado João Moura.

Pesa contra o deputado também a declaração do ex-assessor especial da presidência do Banco do Nordeste Kennedy Moura Ramos que negou ser o dono do dinheiro, dizendo ter recebido um apelo de Jorge Guimarães para que assumisse que o dinheiro era seu.

Anteontem, após a divulgação de que a PF teria evidências de o deputado se encontrou com o então assessor em São Paulo, José Guimarães reagiu com indignação. Ele repetiu que desconhecia a viagem a São Paulo de José Adalberto, que era também secretário de Organização do PT no Ceará. Em seu depoimento à PF, José Adalberto evitou responder às perguntas do delegado Hugo Brazioli Slivinski. Ele disse que só falará à Justiça.

Legenda da foto: JOSÉ GUIMARÃES: cresce envolvimento do irmão de Genoino no caso