Título: Ex-petista: assessora de Dirceu comprou votos
Autor: Rodrigo Rangel
Fonte: O Globo, 21/07/2005, O País, p. 12

Marco Tulio Lemes diz que Sandra Cabral, da Casa Civil, pagou boca de urna para a deputada Neyde Aparecida

GOIÂNIA. O ex-petista Marco Túlio Lemes, que prestou depoimento ao Ministério Público de Goiás na terça-feira acusando o PT local de manter caixa dois com dinheiro desviado dos cofres públicos, fez novas denúncias que apontam para supostas movimentações financeiras suspeitas. Desta vez, em entrevista ao GLOBO, ele acusa a assessora especial da Casa Civil, Sandra Cabral, de ter buscado dinheiro em São Paulo para comprar votos e bancar a boca de urna da campanha que elegeu deputada federal a professora Neyde Aparecida, em 2002.

Sandra trabalhou como coordenadora da campanha de Neyde Aparecida. Mulher-forte da gestão de José Dirceu na Casa Civil, onde administrava a lista de aliados que ocupam cargos federais de diferentes escalões, Sandra e Neyde integram um seleto grupo de professores que há anos controlam considerável parcela do PT goiano. Um dos expoentes do grupo é o ex-tesoureiro nacional do PT, Delúbio Soares. A petista, que até ontem mantinha o posto na Casa Civil, era dirigente nacional da CUT antes de entrar para o governo.

Marco Túlio Lemes afirma que a viagem de Sandra a São Paulo aconteceu a três dias da eleição de 2002. Segundo ele, ela foi a São Paulo num dia e voltou no outro, de manhã, trazendo a bolsa com notas que, calcula, totalizariam mais de R$250 mil. Ele diz ter buscado a petista no aeroporto e admite ter participado diretamente da distribuição do dinheiro a cabos eleitorais encarregados de comprar votos na região da Grande Goiânia.

- Ela voltou com uma bolsa preta cheia de dinheiro. Tinha mais de 250 mil reais - afirma Lemes, que diz ter rompido com o PT após ser abandonado pelo "grupo dos professores". - A maioria das notas era de 50 e de 100. Tinha até a cinta do banco. Não lembro o nome do banco, mas lembro que era uma cinta branca com letras vermelhas.

Distribuição do dinheiro era feita a cabos eleitorais

O ex-petista diz que, do aeroporto, Sandra seguiu para o comitê da campanha. E que, no dia seguinte, véspera da eleição, foi feita a distribuição.

- O dinheiro foi levado para o apartamento da Sandra Cabral. Ficamos até as seis da tarde para distribuir. O pessoal chegava e levava dinheiro e camiseta para fazer trabalho nos bairros. Eu mesmo peguei 4.500 reais para distribuir na região noroeste de Goiânia, para distribuir a pessoas que já estavam combinadas.

Segundo Lemes, o dinheiro era para comprar votos na periferia de Goiânia com ajuda de cabos-eleitorais

- As pessoas que estavam combinadas de pagar a boca de urna da campanha chegavam e pegavam o dinheiro e as camisetas. O esquema era pago assim: 20 reais por voto mais uma camiseta. Os responsáveis iam lá e buscavam as quantias.

Lemes trabalhou na campanha de Neyde Aparecida e foi diretor de transportes da companhia municipal de urbanização, a Comurg, quando o petista Pedro Wilson foi prefeito de Goiânia (2000-2004). Lemes afirma que a campanha de Neyde também recebeu dinheiro de empresas contratadas pela Comurg. Parte das doações, segundo ele, vinha pelas mãos de Adhemar Palocci, irmão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que à época ocupava cargo comissionado na prefeitura de Goiânia. Nem Neyde Aparecida nem Sandra Cabral quiseram se manifestar. Para defendê-las, destacaram o advogado Sebastião Ferreira Leite, que nega as acusações e acusa Lemes.

- Ele é um chantagista.

Legenda da foto: MARCO TÚLIO: "Ela voltou de São Paulo com uma bolsa cheia de dinheiro. Tinha mais de 250 mil reais"