Título: Integrante da CPI já fala em pedir a prisão preventiva de Marcos Valério
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 16/07/2005, O País, p. 4

Procurador-geral recusa pedido do empresário para ter pena reduzida

BRASÍLIA. O presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral (PT-MS), requisitou cópia do depoimento prestado pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza à Procuradoria Geral da República anteontem. No depoimento ele cita o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Segundo Delcídio, Valério disse ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, que Delúbio era quem o orientava nos empréstimos que fez ao PT. O dinheiro era utilizado no financiamento e no pagamento de dívidas de campanha eleitoral. A CPI solicitou também ao procurador cópia do depoimento de Delúbio. Os dois depoimentos serão enviados à comissão na segunda-feira.

O deputado federal Gustavo Fruet (PSDB-PR), integrante da CPI, defendeu a prisão preventiva de Marcos Valério, que, segundo ele, estaria atrapalhando as investigações:

- Vamos pedir a prisão dele para impedir que documentos continuem sendo queimados como os que foram incinerados em Belo Horizonte.

O deputado disse que pedirá também proteção policial para a família de Valério.

- Ele é fundamental para as investigações. É uma bomba. A Polícia Federal tem que garantir a sua segurança e a de sua família.

Delcídio Amaral revelou ainda que Marcos Valério não citou nome de qualquer deputado ou senador e também de outro partido político que teria sido beneficiado pelo esquema nos últimos anos. O presidente da CPI não teve acesso aos depoimentos, mas conversou durante quase duas horas com Antonio Fernando.

- Marcos Valério não fez menção a qualquer partido ou parlamentar em seu depoimento - disse Delcídio.

'Não foi feito qualquer acordo'

Segundo o senador, o procurador-geral "descartou completamente" a proposta feita por Valério de ser considerado réu colaborador. A informação prestada pela procuradoria, anteontem, era que Antonio Fernando considerou prematura a hipótese.

Delcídio classificou de sensata a decisão do procurador em não conceder a condição de delator premiado ao publicitário. Para ele, essa decisão poderia esvaziar as investigações dos órgãos do governo e do Congresso Nacional, através da CPI. O senador fez questão de ressaltar que o procurador não fez qualquer acordo com Valério:

- Não foi feito qualquer acordo, até porque os resultados da CPI desaguarão no Ministério Público. Não haverá nenhum tipo de esvaziamento das investigações que estão sendo feitas pelo governo federal e pela CPI. Se fosse feito acordo, como ficariam essas investigações?!

O presidente da CPI também se reuniu ontem com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ele encaminhou a Meirelles as queixas da comissão de que está havendo muita demora no repasse das informações sobre a movimentação financeira de Marcos Valério e de suas empresas, que já tiveram o sigilo quebrado pela comissão.

BC pode punir banco por demora

Meirelles informou a Delcídio que enviou ofício aos bancos exigindo que essas instituições enviem as informações ao Banco Central em cinco dias sob pena de serem punidos. O presidente do BC ameaça instaurar processo administrativo contra esses bancos se não encaminharem os documentos no prazo estabelecido. Delcídio reclamou principalmente da falta de informações da agência do Banco Rural em Brasília, suspeita de ter sido o local onde se concentravam os saques do dinheiro que pagou o mensalão.

- Viemos pedir celeridade no encaminhamento de informações fundamentais para o andamento das investigações - afirmou Delcídio.

Meirelles informou ao senador que são poucas as pessoas que têm acesso a dados sigilosos, uma das razões para o atraso no envio dos documentos.

Marcos Valério foi pressionado pela mulher, Renilda de Souza, e pelos sócios das agências DNA e SMP&B a se desligar das empresas e admitir publicamente que fez empréstimo para o PT. Há dois dias um dos sócios ficou sabendo que os empréstimos seriam divulgados na imprensa e a pressão aumentou. Ontem, Valério se reuniu com os sócios e os advogados durante o dia inteiro e nessa reunião foi acertada a nota à imprensa e a entrevista para a Rede Globo.

Valério também acertou com os sócios que ele e sua mulher vão se desligar das agências. O desligamento seria anunciado ontem, mas o publicitário não mencionou a decisão na nota nem na entrevista. Segundo um funcionário da agência, a apreensão dos documentos da DNA não é considerado fato grave pelos sócios. Eles estão preocupados com a exposição na mídia e a perda de clientes.