Título: EMPREGO ESTAGNADO
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 16/07/2005, Economia, p. 21
Indústria não abriu postos de trabalho em maio. No Rio, queda foi de 3%
A reação no ritmo da produção industrial em maio (alta de 1,3% frente a abril) não se repetiu no emprego industrial. De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário, divulgada ontem pelo IBGE, não houve criação de vagas no setor frente a abril, mês em que a ocupação cresceu 0,6%, depois de dois meses de queda. Em comparação com maio do ano passado, o movimento de recuperação também foi menor: aumento de 2% contra a alta de 3% em abril. No ano, o emprego aumentou 2,6% e, nos últimos 12 meses, 2,9%.
O Rio foi um dos quatro locais dos 14 pesquisados pelo IBGE no qual houve corte no emprego. A queda de 3% em relação a maio do ano passado é explicada pela redução no quadro do setor de vestuário (10,6%). Também registraram recuo no emprego a Região Sul (0,7%), o Espírito Santo (1%) e o Rio Grande do Sul (5,8%).
O indicador de horas pagas explica um pouco da estagnação do emprego em maio. O número de horas cresceu 0,3% em relação a abril e 1,9% contra maio do ano passado. E foi mais forte nos setores que estão mais dinâmicos e voltados para as vendas externas e para o agronegócio.
- Os setores mais dependentes do mercado interno ainda apresentam queda no emprego. Enquanto os que destinam a produção para o exterior, como alimentos e bebidas e meios de transporte, aumentaram o emprego e o número de horas pagas - disse André Macedo, economista da Coordenação de Indústria do IBGE.
Cortaram vagas os ramos de calçados e artigos de couro (11,6%), madeira (6,7%) e vestuário (3,2%).
Petrobras puxa massa salarial
Outra explicação para a estagnação do emprego industrial é o fato de, segundo Macedo, em geral, o aumento da produção não se refletir imediatamente no emprego:
- Mas, em relação a 2004, os números do nível de emprego são, na maioria, positivos.
A massa de salários teve comportamento inverso: cresceu 2% frente a abril, após ter recuado 2,5% no mês anterior. Mas o motivo não foi uma recuperação real dos rendimentos no setor e, sim, o pagamento pela Petrobras de participação nos lucros a seus funcionários. A folha de pagamento desse rendimento ficou em R$690 milhões, de acordo com a Federação Única dos Petroleiros (FUP):
- Em maio, em média, os trabalhadores receberam mais 2,5 salários - disse Antonio Carrara, presidente da FUP.
O impacto foi expressivo. A folha de pagamento real da indústria extrativa mineral, na qual a Petrobras está incluída, subiu 51,3% em relação a abril, enquanto no restante do setor industrial, a alta se limitou a 0,4%, pelas contas do IBGE. Frente a maio de 2004, os resultados também foram positivos: a massa de salários foi 6,3% maior no mês e, no ano, 4,4%.
- Além do pagamento de bônus e participações, a redução da inflação entre abril e maio explica a taxa positiva. Normalmente, a indústria extrativa-mineral afeta mais a renda do que o emprego - disse Macedo.
No Rio, o depósito dos bônus fez a folha de pagamento real crescer 32,7%, num dos principais impactos positivos para a alta. A massa salarial da indústria extrativa fluminense avançou 234,3%.
Emprego deve continuar estável
O economista Marcelo de Ávila, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), não acredita que o emprego industrial volte a crescer nos próximos meses. Para ele, "na melhor das hipóteses", o nível de ocupação deve continuar estável:
- Como a indústria está mais voltada para o mercado exterior, o emprego não reage. O setor voltado para a demanda interna (mais empregador) está desaquecido pelo aperto da política monetária (os juros básicos, a Selic, começou a subir em setembro de 2004, para 16,25% ao ano, e hoje está em 19,75%).
Ele afirma que a reação só deve surgir no último trimestre do ano, provocada pela aumento da produção para o Natal. Segundo análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a estagnação no emprego no setor vem desde novembro do ano passado.
"Nesse período, o pessoal ocupado no setor caiu 0,2%. Essa é mais uma indicação de que a indústria, desde o último trimestre do ano passado, vem perdendo dinamismo na produção, o que se reflete em um impulso bem menor no emprego gerado pelo setor", diz o instituto.
/ o comportamento dos salários / o desempenho do emprego por região