Título: ASSESSOR DE FUNDO DE FURNAS TEM BENS DE R$3 MILHÕES
Autor: José Casado
Fonte: O Globo, 17/07/2005, O País, p. 3

Operações de compra de títulos públicos da Fundação Real Grandeza serão investigados pela CPI dos Correios

BRASÍLIA. Na mira da CPI dos Correios, as operações de compra de títulos públicos feitas pela Fundação Real Grandeza devem começar a ser investigadas a partir de requerimentos feitos pela oposição. Na investigação da administração dos R$4,8 bilhões do patrimônio do fundo de 6,6 mil servidores de Furnas a CPI vai esbarrar em Jeronymo Monteiro de Sá, um assessor da área de investimentos que, nos últimos anos, construiu um robusto patrimônio de aproximadamente R$3 milhões. Os bens seriam incompatíveis com o seu salário.

Documentos obtidos em cartórios do Rio de Janeiro demostram que entre 2001 e 2004 Sá se tornou proprietário de dois apartamentos de luxo no Rio. Os salários pagos aos funcionários da Real Grandeza variam de R$2 mil a R$12 mil. Como assessor, Jeronymo ganharia algo em torno de R$6 mil. O fundo não paga comissões a seus operadores. Só o valor do condomínio no Barra Golden Green, onde fica um dos apartamentos do assessor, varia entre R$5.500 e R$7 mil.

Corretores avaliam apartamento na Gávea em R$1,8 milhão

Segundo certidão do 6º Ofício de Distribuição, Sá é dono de um terreno de 111 mil metros quadrados em Nova Friburgo, comprado em 27 de dezembro de 1999; do apartamento 502 do bloco 3 na Avenida Canal de Marapendi 2.951, adquirido em 18 de maio de 2001; e do apartamento C-502 na Estrada da Gávea 60, comprado em 24 de junho de 2004.

O apartamento da Avenida Canal de Marapendi fica no edifício Blue Ash, um dos 14 prédios que formam o condomínio Barra Golden Green, na praia da Barra da Tijuca. A operação de compra do imóvel foi declarada ao cartório por R$650 mil, mas o preço de mercado do apartamento é superior ao dobro deste valor. O Golden Green tem heliporto, campo de golfe e jardim projetado por Burle Marx. Como informa a propaganda, ¿Todos os apartamentos são de quatro suítes, sendo uma master com closet¿.

O segundo imóvel, na Estrada da Gávea, adquirido no ano passado, fica no prédio que já foi considerado o mais valorizado da Gávea. Hoje, os corretores da região avaliam que um apartamento no prédio vale cerca de R$1,8 milhão.

Sá, até fevereiro deste ano, trabalhava na mesa de operações do fundo de pensão. Era subordinado ao então gerente de Operações de Investimentos do Real Grandeza, Marcelo Soares Mendonça. Ambos foram transferidos e tornaram-se assessores do diretor de Investimentos, Jorge Luiz de Freitas. Os dois teriam sido removidos por terem concentrado investimentos do fundo em bancos como o Santos, liquidado pelo Banco Central (a quebra teria causado um prejuízo de R$153,6 milhões à fundação), e nos bancos BMG e Rural. Os dois últimos bancos emprestaram dinheiro ao PT por influência do publicitário Marcos Valério, acusado de ser o operador do suposto mensalão.

O deputado tucano Eduardo Paes (RJ) pretende fazer um requerimento para investigar o assunto. A descoberta de que, até o ano passado,12% dos investimentos da fundação estavam aplicados em papéis dos três bancos causou também o afastamento do gerente de Análise de Investimentos do Real Grandeza, Benito Siciliano, ligado ao PTB. Só em 2004, a fundação aplicou R$363,4 milhões em títulos (CDBs e RDBs) e FIDCs no BMG e no Rural.

Procurado pelo GLOBO na sexta-feira na fundação, Sá atendeu ao telefone e pediu que os repórteres ligassem novamente em dois minutos. Na segunda tentativa, entretanto, o assessor não foi mais encontrado para comentar o assunto.