Título: Ex-secretária: Mentor participou de reunião com Valério e Guedes
Autor: Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 17/07/2005, O País, p. 4

Em 2003, petista era relator da CPI do Banestado e investigava o Rural

BELO HORIZONTE. O procurador da Fazenda Glênio Guedes, que teve despesas pagas pelo publicitário Marcos Valério, participou de uma reunião em São Paulo, em 3 de outubro de 2003, com os sócios da agência SMP&B e o deputado José Mentor (PT-SP), relator da CPI do Banestado. Na época, enquanto Mentor participava de investigações sobre o Banco Rural, que contava com Valério para intermediar negócios junto ao governo federal, Guedes atuava no Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN), onde são julgados recursos de punições aplicadas a instituições financeiras.

Ao reler a agenda que serviu de roteiro para a descoberta das relações entre Valério e figuras-chaves do governo do PT, a ex-secretária do publicitário Fernanda Karina Somaggio lembrou de novos detalhes desses encontros do ex-chefe. A secretária disse ao GLOBO que Valério levou o procurador Glênio Guedes para pelo menos uma das muitas reuniões que manteve com Mentor quando o parlamentar atuava na CPI do Banestado.

¿As passagens foram tiradas juntas,¿ diz ex-secretária

A agenda de Karina registra a compra das passagens para Valério, seu sócio Cristiano, o advogado Rogério Tolentino, sócio de Valério em uma empresa de consultoria, e Glênio Guedes, o procurador que prestava favores para o publicitário e o Banco Rural.

¿ As passagens foram tiradas juntas. Veja, a do Glênio era do Rio para Belo Horizonte, de BH para Congonhas (SP) e depois ele voltou para o Rio ¿ explica Karina, apontando para a anotação na agenda.

Ela mostra que Valério se reuniu com Mentor em São Paulo poucos dias depois de prestar depoimento à Polícia Federal sobre a remessa ilegal de recursos da DNA para o exterior, objeto das investigações da CPI do Banestado. O depoimento foi no dia 28 de setembro, uma terça-feira, e a reunião com Mentor foi marcada para a sexta-feira da mesma semana, sendo depois transferida para a segunda-feira seguinte. José Mentor disse ao GLOBO que não se lembra desse encontro com Valério e Glênio Guedes em São Paulo.

¿ Não me recordo de ter tido essa reunião com Glênio Guedes. Fico surpreso com a secretária Karina, que a cada depoimento fala uma novidade ¿ disse o deputado, por intermédio de sua assessoria.

Karina revelou na CPI dos Correios que, depois de receber um telefonema do deputado José Mentor, Valério exigiu que ela picotasse 25 pastas de documentos. No atropelo para eliminar os documentos, até as certidões originais dos filhos de Valério foram picotadas.

Na quarta-feira, a ex-secretária acrescentou mais um detalhe importante a essa história. Disse que Valério recebera a informação de que o então vice-presidente do Banco Rural José Augusto Dumont poderia ser preso. O Banco Rural também estava sendo investigado pela CPI do Banestado, mas acabou ficando de fora do relatório final de Mentor.

Karina também deu mais detalhes sobre a relação de Valério com Marcus Flora, o segundo homem na estrutura da Secretária de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica (Secom). Segundo a ex-secretária, Flora sempre foi muito próximo de Valério.

¿ Sempre que ele vinha a Belo Horizonte conversava com o Marcos (Valério) e em Brasília as reuniões também eram freqüentes ¿ disse a ex-secretária.

A agenda de Karina tem oito referências a Marcus Flora, um encontro no Hotel Luminis em Belo Horizonte, almoços e jantares em Brasília. Nenhuma reunião foi realizada na Secom, que é o local de trabalho de Flora. O braço direito de Luiz Gushiken e o próprio secretário de Comunicação de Governo estão na mira da CPI dos Correios por suspeita de favorecimento na licitação que garantiu a uma das agências de Marcos Valério, a SMP&B, uma fatia de R$28 milhões no contrato de publicidade.