Título: Crise já derrubou 40 no PT, governo e estatais
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 17/07/2005, O País, p. 12

Em dois meses, oito dirigentes partidários renunciaram, José Dirceu foi demitido e Luiz Gushiken foi rebaixado

BRASÍLIA. As denúncias de corrupção nos Correios e de pagamento de mesada para deputados votarem a favor do governo são as duas faces de um escândalo político que provocou o maior número de demissões na História recente do país ¿ 40 cabeças já rolaram no governo, nos partidos e nas estatais. Num período curto de dois meses, a crise política já custou a renúncia de oito dirigentes partidários, inclusive dos ex-presidentes do PT José Genoino e do PTB Roberto Jefferson, e a demissão de 32 integrantes do governo, entre os quais o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, e de empresas estatais.

O escândalo levou ainda o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a tirar o status de ministro do secretário de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, um dos alvos da oposição. Gushiken está sob ataque e deve ser ouvido pela CPI dos Correios sobre os contratos de publicidade do governo, os anúncios de fundos de pensão em publicações de seu cunhado e contratos da empresa de seus ex-sócios, a Globalprev, com fundos de pensão. Gushiken agora está subordinado à Casa Civil.

Resposta tímida no ínicio

Quando a crise começou em 14 de maio, com a divulgação da gravação do pagamento de propina para um funcionário de quarto escalão dos Correios, o governo Lula teve uma resposta tímida. Foram afastados de seus cargos apenas três funcionários dos Correios: o diretor de Administração, Antonio Osório Batista, o chefe de Departamento Maurício Marinho (flagrado cobrando a propina) e o assessor Fernando Godoy. Vinte dias depois Lula determinou aos ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e das Comunicações, Eunício Oliveira, que demitissem toda as diretorias dos Correios e do IRB ¿ onde homens de Roberto Jefferson operavam supostos esquemas de corrupção.

¿ Não tivemos na História recente uma crise com essa dimensão ¿ diz o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), integrante da CPI dos Correios.

Paes: Prática política é atingida

Num espaço de dois meses, uma denúncia que começou tendo como alvo um esquema de corrupção que teria sido montado pelo PTB a partir de cargos em empresas públicas voltou-se contra o governo e o PT. A guinada foi provocada pelas denúncias do presidente licenciado do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ). Veio à tona, então, Marcos Valério Fernandes de Souza, dono das agências de publicidade SMP&B e DNA Propaganda, que tem vários contratos no governo e que seria o caixa do PT para pagar mesada a deputados do PP e do PL. A imagem do PT foi para a lona e, de revelação em revelação, sua direção caiu.

¿ Esta crise é tão profunda que, além de atingir o governo, atinge também a prática política vigente. O Roberto Jefferson desnudou os costumes políticos e o aparecimento de Marcos Valério ampliou o tamanho da crise ¿ disse o vice-líder do PSDB, deputado Eduardo Paes (RJ), integrante da CPI dos Correios.

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