Título: PAÍS ENGORDA PRODUÇÃO SUÍNA E JÁ É O 4º MAIOR DO MUNDO
Autor: Eliane Oliveira e Flávia Barbosa
Fonte: O Globo, 17/07/2005, Economia, p. 30

Vendas internas e externas somaram US$5 bilhões em 2004. Granjas empregam atualmente 730 mil pessoas

BRASÍLIA. Trinta anos após a peste suína colocar em xeque a produção nacional, a criação de porcos no Brasil deixou o fundo do quintal, profissionalizou-se, adota tecnologia de ponta e atrai empresas multinacionais. O país tem hoje o quarto maior rebanho do mundo e está em quarto lugar na lista dos grandes exportadores mundiais, mas a conquista de novos mercados está conduzindo o país à liderança internacional do setor. As vendas internacionais somaram no ano passado US$1 bilhão, sendo os negócios domésticos de US$4 bilhões. Apenas nas granjas, são gerados hoje 730 mil empregos, número triplicado nas demais fases da cadeia produtiva.

Para se ter uma idéia do desempenho da produção suína brasileira - que deve alcançar 2,732 milhões de toneladas este ano, das quais 550 mil serão exportadas - de janeiro a maio deste ano as exportações cresceram 81,11% em comparação ao mesmo período de 2004.

Embarques para o Gabão cresceram 5.708% este ano

O desempenho acontece a despeito das infindáveis barreiras técnicas impostas pelo Japão e pelos países europeus. É puxado pela conquista de mercados novos, que impressionam pelas cifras. Rússia, Hong Kong e Argentina são nossos principais compradores, mas os embarques cresceram este ano 5.708% para o Gabão e 4.949% para a Costa do Marfim, para ficar em apenas dois exemplos.

No Brasil, a criação incorporou tecnologia: o uso de inseminação artificial e genética é corriqueiro na produção. Só de multinacionais de genética suína são seis, vindas da Holanda à Dinamarca, como Dan Bred, Dalland, Geneticpork. Com elas e o trabalho dos cientistas brasileiros, a gordura da bisteca vem sendo reduzida, ampliando a gama de paladares a que a carne suína nacional pode agradar.

Também contribui para os bons resultados a inclusão de produtos processados na pauta de venda, como presunto e enlatados, de maior valor agregado. A diversificação produz bons números, como o rendimento ao produtor de R$250 por porco. E uma bolsa de cotação está sendo montada para orientar melhor as negociações dos produtores.

- O nível de produtividade da suinocultura brasileira é comparável ao de Dinamarca, Holanda, Estados Unidos. Temos técnicos capacitados, material genético excelente, boa nutrição e clima favorável - diz Nelson Morés, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Santa Catarina, o maior estado exportador.

Febre aftosa ainda é um problema, diz associação

Segundo ele, o custo da inseminação artificial em suínos é bem menor do que em bovinos. Enquanto no segundo caso é preciso manter o sêmen congelado em nitrogênio líquido (a uma temperatura de quase 200 graus abaixo de zero), para suínos o material é resfriado.

- Pelo método natural, um macho pode engravidar 20 fêmeas. Na inseminação, um macho cobre cem fêmeas - ilustra Morés, acrescentando que um bom reprodutor chega a custar até R$2 mil.

- Estamos em um ótimo momento. A carne suína estava atrasada em relação às demais, mas conquista seu espaço no mundo - afirma Pedro Camargo, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Suínos (Abipecs), lembrando que ainda é preciso eliminar totalmente a aftosa do rebanho.

Empresas criam 'porcos lights' alterando genes

Método elimina 60% da gordura do animal

BRASÍLIA. Na sede da Embrapa, em Brasília, um leitão malhado de oito meses chama a atenção: Francisco, ou Chiquinho, como é chamado pelos funcionários, é um "suíno light", animal modificado geneticamente com redução de até 60% da gordura. Essa cultura é praticada por grandes granjas, cooperativas e produtores independentes em 145 municípios de 12 estados, sobretudo no Sul, e a carne é vendida com sucesso em supermercados.

Chiquinho é um exemplo de que criatividade e adaptação às exigências cada vez maiores do consumidor - daqui e de fora - são essenciais para fechar contratos. Contam sabor, suculência, manejo do animal, condições de abate e transporte. E ainda o quão saudável e ecologicamente correto é o produto que vai para as prateleiras dos supermercados.

- Difunde-se cada vez mais a idéia do bem-estar do animal - afirma o diretor-executivo da Embrapa, Kepler Euclides Filho.

Outro exemplo de sucesso é o da Granja Querência, do interior de São Paulo. Lá, cerca de 11,5 mil animais recebem tratamento genético para ficarem menos gordos e são tratados com homeopatia e fitoterapia.

- Desenvolvemos vários produtos, como um promotor de crescimento à base de ervas como menta, alecrim, boldo, cebolinha verde e cenoura. O uso de antibióticos sacrifica os animais e cria resistência às doenças - diz o gerente da Querência, Paulo Micheloni.

A introdução de métodos naturais - da coleta do sêmen à alimentação - garantiu números 15% maiores ao empreendimento. Hoje, enquanto para cada matriz (a porca dedicada à reprodução) há dez outros animais na média nacional, na Querência a proporção é de uma para 11,5.

Mas Micheloni diz que o maior ganho obtido foi um "carimbo" de produto ecologicamente correto. Gigante do varejo mundial, o Carrefour gostou do método natural da Querência e hoje compra 70% da produção da granja, que comercializa entre 1,5 mil e 1,8 mil suínos por mês e tem faturamento estimado no mercado de R$450 mil mensais:

- O mercado dos produtos ecologicamente corretos é crescente e fez com que recebêssemos excelente adicional pelos suínos. (Eliane Oliveira e Flávia Barbosa)