Título: O crime perfeito
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 18/07/2005, O Globo, p. 2

Pode ser que seja verdade, mas a versão apresentada pelo empresário Marcos Valério de Souza e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, é conveniente. O irônico é que ambos adotaram a tese de seu algoz, o presidente licenciado do PTB, Roberto Jefferson (RJ). O discurso é o mesmo: o problema é o sistema vigente de financiamento eleitoral que condena todos os partidos ao pecado.

Apresentada dois meses após o início da crise política, a versão Valério-Delúbio é coerente e livra o governo Lula, e o PT, de acusações mais pesadas. Um dos articuladores políticos do governo enumerou ontem as implicações práticas da versão sobre as suspeitas que estão no ar. Se for verdadeira, não há mensalão, mas financiamento de campanha; não há corrupção para financiar o PT e aliados, mas recursos obtidos com empréstimos bancários. Como diz este governista: "Dos males o menor, crime eleitoral".

- Eles confessam um crime pelo qual não podem ser condenados para se livrar do crime de corrupção - diz o líder do PSDB, Alberto Goldman (SP).

Segundo um ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os prazos para pedidos de cassação de candidatos eleitos em 2004 ou para a rejeição das prestações de contas estão vencidos. Sendo assim, parece que o petista Delúbio Soares decidiu imolar-se, estando passível de responder a uma ação penal por falsidade ideológica relativa à prestação de contas da campanha presidencial de 2002. Na mesma situação estarão os responsáveis pelas prestações de contas dos candidatos petistas em 2004. Mas Delúbio poderá fazer como Jefferson, que não revelou quais os candidatos do PTB que receberam por fora parte da ajuda de R$4 milhões que teria sido dada pelos petistas.

- Os mandatos conquistados pelos petistas em 2004 são todos ilegítimos. Houve abuso de poder econômico - diz o líder do PFL, José Agripino (RN).

Desmontar a versão Valério-Delúbio passa a ser estratégico para a oposição. A história contada por eles, mais a decisão de Delúbio de chamar para si a responsabilidade, fazem parte de uma operação para livrar o presidente Lula, para tirar o PT do foco e liquidar com a denúncia de que deputados do PP e do PL recebiam mesada para votar de acordo com a orientação do governo. Não basta à oposição dizer que esta versão é uma farsa. É preciso demonstrar. A Operação Uruguai foi desmascarada com fatos, não com discursos.

Frase do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix: "A Abin não investiga pessoas, ela investiga fatos, onde eventualmente aparecem pessoas".

A oposição está batendo cabeça

Os líderes do PSDB e do PFL na Câmara e no Senado fizeram uma reunião de emergência com tucanos e pefelistas que participam da CPI dos Correios.

Estão preocupados com a eficiência da investigação e com a falta de foco na ação dos oposicionistas. Foram feitas vários sugestões aos que participam da comissão: convocar primeiro para depor os bagrinhos, que não têm preparo e nem razões para mentir, e dedicar mais tempo à analise de documentos. Eles decidiram reivindicar ao presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), a permissão para que assessores possam analisar os documentos sigilosos.

Foi acertado, por exemplo, que por mais espetacular que seria, não se deveria convocar para depor o petista José Adalberto, aquele que foi preso com dólares dentro da cueca, até que haja uma ligação deste fato com a apuração da comissão. A oposição fechou que continuará investigando tudo na CPI dos Correios, mesmo com a instalação da CPI do Mensalão. Aliás, eles se penitenciam por tê-la apoiado.

Mensalão goiano

Vice-presidente da CPI dos Correios, o senador Maguito Vilela (PMDB-GO) fez um levantamento sobre a cooptação de parlamentares feitas pelo governador de Goiás, Marconi Perillo. Desde que ele se elegeu governador, em 1998, saíram de outros partidos para o PSDB 88 vereadores, 14 deputados estaduais e oito deputados federais. O governador vai depor sobre o mensalão no Conselho de Ética da Câmara e na CPI.

SOBRE O SUMIÇO de documentos da Comissão de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) na CPI dos Correios, o deputado Onix Lorenzoni (PFL-RS) faz sua defesa: "Como posso ser suspeito? Fui eu quem descobriu que os documentos tinham desaparecido".

A FRENTE pelo Desarmamento já está se estruturando. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), será o coordenador geral, o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) o coordenador executivo, e o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) o coordenador institucional.

O EX-SECRETÁRIO EXECUTIVO da Casa Civil Swedenberger Barbosa vai voltar para o governo Lula. Está examinando propostas.

E-mail para esta coluna: ilimarbsb.oglobo.com.br

Novo líder

Um grupo de governistas do PMDB está articulando para que o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PR), concorra a líder na eleição de 10 de agosto. Dizem que por seu desempenho na comissão a escolha seria bem recebida na opinião pública. Para tocar a bancada até o final da CPI, esta articulação quer que a função de primeiro vice-líder seja oferecida ao deputado José Priante (PA).