Título: CPI busca histórico das transações de Valério
Autor: José Casado
Fonte: O Globo, 18/07/2005, O País, p. 8

Movimentação financeira das 14 empresas do publicitário pode revelar a rota do dinheiro transferido a partidos políticos

BRASÍLIA. A rota do dinheiro transferido pelo empresário Marcos Valério Fernandes a líderes do PT e de partidos aliados está em uma conta-caixa no Banco Rural em Belo Horizonte com a movimentação financeira de suas 14 empresas, e detalhes sobre datas, depósitos, saques e identidades das pessoas físicas e jurídicas a que se destinavam. A CPI dos Correios deu prazo até amanhã para o banco entregar os dados referentes aos últimos cinco anos, ou a polícia será chamada para obter os documentos.

O Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda identificou movimento de R$1,6 bilhão nas contas de empresas ligadas a Marcos Valério nos últimos três anos. Cerca de R$500 milhões foram movimentados nos últimos 18 meses.

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A comissão já pedira os documentos mas na sexta-feira entendeu que o banco protelava o envio. À noite, o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), recorreu ao presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, que sugeriu o prazo que termina amanhã.

- Vamos esperar. Se eles não entregarem, vamos entrar com a polícia e fazer a apreensão - avisou Delcídio.

- Mas aí teríamos uma crise sistêmica - argumentou o presidente do BC, referindo-se a uma repercussão negativa da ação policial.

- Meu amigo, crise sistêmica nós vamos ter mesmo é se essa CPI não funcionar - retrucou o senador.

O senador informou ao presidente do BC que o BMG e o Banco do Brasil foram intimados a apresentar cópias dos contratos com o PT e partidos políticos nos últimos cinco anos nos quais Marcos Valério aparece como avalista, fiador ou devedor solidário.

Banco enfrenta outros problemas na Justiça

A comissão quer ainda os registros dos saques nas contas da SMP&B, na agência do Banco Rural no 9º andar do Edifício Brasília Shopping, desde a posse do presidente Lula. E pediu uma auditoria do BC nos negócios do Rural em Brasília.

O banco já enfrenta problemas semelhantes na Justiça. Na semana passada, em Belo Horizonte, um juiz aceitou a denúncia do Ministério Público por "encobrir a identidade" dos autores de fraudes cambiais de US$192 milhões entre abril de 1996 e janeiro de 2000. Foram acusados José Roberto Salgado (vice-presidente), Vinícius Samarane, Francisco de Assis Morais Pinto Coelho, Cláudio Eustáquio da Silva, Ronaldo dos Santos Corrêa, Danton Alencar e Odilon Cândido Barcelos.

As fraudes foram em simulações de compra e venda de dólares entre a subsidiária uruguaia do Rural e bancos paraguaios. Foi um dos casos sobre lavagem de dinheiro em contas especiais, conhecidas como CC-5, examinados na CPI do Banestado. O relator da CPI, deputado José Mentor (PT-SP), evitou mencionar o banco no relatório final. Mentor está citado nos autos da CPI dos Correios como parceiro de Valério em viagens a Brasília, usando jatinhos do Banco Rural. O BC tem um histórico de problemas do banco. Três executivos foram condenados em 1999 por manipular registros sobre depósito compulsório.