Título: AUMENTOU O RISCO DE INVESTIR EM AÇÕES DE MINERADORAS E SIDERÚRGICAS
Autor: Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 18/07/2005, Economia, p. 19

Papéis têm apresentado volatilidade muito grande nos preços em bolsa

Na última sexta-feira, os investidores tiveram mais uma prova da forte variação dos preços das ações siderúrgicas e de mineradoras este ano. As ordinárias da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) fecharam a semana em alta de 13,31%, e as preferenciais da Companhia Siderúrgica Tubarão (CST), 16,19%. Em contrapartida, a mineradora Caemi subiu 2,14% e a ação da Companhia Vale do Rio Doce caiu 1,88%.

No ano, fora a Caemi, as demais estão negativas. Apesar dos excelentes fundamentos dessas ações (mais geração de caixa, menor endividamento, maior produtividade e maior distribuição de dividendos), elas sofrem com o aumento ou redução no risco sistêmico, segundo especialistas.

Aliás, os papéis de siderúrgicas caíram exatos 43% em média desde o pico de preço atingido nas primeiras semanas de março até o dia 8 de julho, considerado o auge da crise política. O curioso é que as ações desses dois setores, consideradas até o ano passado como papéis defensivos em momentos de muita oscilação do mercado, agora apresentam um elevado grau de flutuação de preços, como as de telefonia, assustando os investidores.

Analistas acreditam que volatilidade veio para ficar

Analistas de mercado concordam que a volatilidade nos dois setores veio para ficar. A analista Catarina Pedrosa, do Banif Primus Banco de Investimento, assinala que as ações siderúrgicas e de mineradoras tornaram-se mais voláteis, porque passaram a atrair mais investidores devido aos resultados cada vez melhores com o ciclo de alta das commodities.

- Com isso, as ações de mineradoras e siderúrgicas tornaram-se mais líquidas e, em conseqüência, mais voláteis- explicou ela.

Vários fatores têm tornado as ações de siderurgia e de mineradoras uma aposta de muitos investidores, segundo Alexandre Carneiro, da Adinvest Consultoria e Administração de Investimentos. Ele lembra que, nos últimos três anos, as siderúrgicas e mineradoras melhoraram sua produtividade, promoveram forte redução ou alongamento do endividamento, aproveitando-se da alta de mais de 70% nos preços do aço em dólar em 2004.

Esta conjuntura muito positiva fez o mercado aumentar sua exposição nos papéis dos dois setores ainda no ano passado, à espera de resultados muito animadores em 2005. Só que, a certa altura, a convicção do mercado começou a esmorecer, levando uma parte dos investidores de porte, como os estrangeiros, a liderar a venda de ações setoriais.

- O ciclo de alta das commodities começou a dar uma virada, levando o mercado a vender ações para embolsar o ganho acumulado - comentou Ricardo Magalhães, gestor de renda variável da Mellon Global Investments.

- O que se pode dizer é que a volatilidade tem relação direta com a saída dos investidores estrangeiros da Bolsa no segundo trimestre - assinalou Cristiane Viana, da Ágora Senior, que acredita em forte reação dos papéis até o fim do ano.

Bernardo Joppert, economista da Arbor Gestão de Recursos, explicou que as vendas de ações siderúrgicas ocorrem porque os estoques de aço estão altos e a demanda mundial, em queda desde o segundo trimestre. Segundo ele, os problemas enfrentados pelas siderúrgicas afetam também as mineradoras, que fornecem o minério de ferro, um dos insumos do aço.

A queda das siderúrgicas se explica basicamente pela redução de cerca de 35% em dólar dos preços das bobinas quentes nos mercados desenvolvidos, como Europa e EUA, a partir de maio. Acrescente-se aí a desvalorização do dólar, que reduz a competitividade do produto local perante os importados.

Também o forte arrocho monetário dos últimos meses produziu efeitos negativos sobre grandes consumidores de aço no país (indústria automobilística e linha branca), para onde a maioria das produtoras de bobinas quentes (CSN, Usiminas e a recém-chegada no segmento, CST) destinam cerca de 75% de suas vendas. Os elevados estoques na mão dos intermediários baixaram ainda mais os preços internos.

Perspectiva de curto prazo é melhor para mineradoras

No caso das mineradoras, depois de terem acompanhado o movimento de baixa das siderúrgicas, parece que o ciclo de baixa dos preços está mais perto do fim. Isso porque os analistas perceberam que a realidade para as mineradoras é muito boa após o forte aumento de 71,5% nos preços do minério fino e 86% nas pelotas.

Como o aumento só começou a ser efetivado no início de abril, a perspectiva é que ele vá aparecer no resultado do segundo trimestre das empresas. A divulgação, em agosto, pode confirmar geração de caixa e lucro líquido recordes tanto para Vale quanto para a Caemi.

Os analistas consultados pelo GLOBO concordam que, apesar da volatilidade, as ações dos dois setores tendem a ter uma boa valorização até o fim do ano. A rigor, porque o preço do aço pode reagir mais fortemente no último trimestre do ano, beneficiando as siderúrgicas. No caso das mineradoras, parte dos analistas acredita que os preços subam pelo menos 5% nas renegociações que se iniciam em outubro e seguem até os primeiros meses de 2006.

www.oglobo.com.br/economia

Legenda da foto: CRISTIANE VIANA, da Ágora Senior, traça um quadro positivo