Título: CPI: mulher de João Paulo sacou R$50 mil do Rural
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 19/07/2005, O País, p. 5

Ex-presidente da Câmara já retirou da comissão documento em que afirmava que ela fora à agência pagar uma conta

BRASÍLIA. A CPI dos Correios já tem informação de que a mulher do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), a jornalista Márcia Regina Milanési Cunha, fez pelo menos uma retirada de dinheiro na agência do Banco Rural em Brasília. O saque não apareceu até o momento porque foi de cerca de R$50 mil ¿ só os saques a partir de R$100 mil têm que ser oficialmente informados ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Por isso, o nome dela não consta da lista do Coaf. A CPI já está analisando as retiradas feitas da conta do publicitário mineiro Marcos Valério na agência do Banco Rural na capital federal.

João Paulo elabora estratégia de defesa

Na última sexta-feira, João Paulo retirou da CPI o ofício em que informava que sua mulher fora à agência do Banco Rural para pagar a conta de uma TV por assinatura. A avaliação de três integrantes da CPI ouvidos ontem pelo GLOBO é que a retirada do ofício foi uma estratégia para, no futuro, não ficar registrada qualquer declaração por escrito que pudesse ser configurada como mentira, cuja pena é a cassação do mandato por quebra de decoro parlamentar.

Procurado, João Paulo disse que não falaria sobre o assunto. Segundo petistas próximos a João Paulo, ele vai aguardar que o documento oficial chegue na CPI. Em conversas reservadas, ele já teria adiantado uma estratégia de defesa: explicar que a retirada de recursos da conta de Marcos Valério seria para pagar dívidas de campanha de 2002 por determinação do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. A oposição acredita que a tese de defesa foi acertada entre Delúbio e Valério, que deram entrevistas com a mesma versão.

Secretária do deputado também foi ao Banco Rural

Desde a semana passada, a CPI dos Correios tem a informação de que Márcia Regina esteve na agência do Banco Rural em Brasília. Segundo os registros da portaria do prédio, Márcia esteve três vezes na agência, todas no dia 4 de setembro de 2003. Na primeira vez, às 14h01m, ela ficou por oito minutos. Na segunda, às 15h05m, foram 19 minutos. Na terceira, entrou às 16h46m e permaneceu por 12 minutos.

Também aparecem registros da secretária do deputado João Paulo, Silvana Japiassú. Ela fez duas visitas ao Rural. A primeira no dia 2 de abril de 2004 e a segunda no dia 16 de abril do mesmo ano.

Na semana passada, João Paulo enviou uma carta ao presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), informando que sua mulher e sua secretária estiveram na agência do Rural, em Brasília, para fazer o pagamento da mensalidade da assinatura da TVA na sua residência, em Osasco, São Paulo. Na carta, João Paulo diz que o Banco Rural era quem recebia o pagamento e que foi necessário ir à agência devido a uma cobrança feita a mais nas faturas de setembro de 2003 e abril de 2004.

Segundo a carta enviada por João Paulo, na fatura de setembro, por exemplo, o valor era de R$204,04, quando deveria ter sido de R$100,78. Esse foi o documento retirado da secretaria da CPI por João Paulo na última sexta-feira.